Rio Vermelho
Histórico
A formação do bairro Rio Vermelho em Salvador remonta aos primeiros adensamentos populacionais, inicialmente impulsionados pela presença de fazendas próximas à Praia da Paciência e à área onde hoje se encontra o Largo da Mariquita. Antigamente, a região abrigava uma aldeia indígena e uma colônia de pescadores conhecida como povoamento de Santana. A transformação desse espaço em um ponto de veraneio para a elite soteropolitana foi influenciada por fatores culturais e religiosos, destacando-se o sincretismo religioso que já estava presente. As histórias e lendas associadas ao Rio Vermelho, muitas vezes atribuídas a propriedades milagrosas das águas e areias locais, contribuíram para sua reputação, enquanto a riqueza cultural dos pescadores e a herança africana foram fundamentais para a celebração do dia de Yemanjá, uma das festividades mais emblemáticas da Bahia, que teve sua primeira edição em 1924.
Entre 1880 e 1930, o Rio Vermelho se tornou um espaço cativo para a elite local, que começou a construir casarões e palacetes. A aceleração do desenvolvimento urbano ocorreu no século XIX com a instalação dos bondes em Salvador e a introdução dos automóveis em 1926, que transformaram o bairro em um ponto de mobilidade urbana e distanciaram-no da atmosfera tranquila de veraneio. A industrialização também deixou sua marca, com a instalação de fábricas, como a da Coca-Cola e a de Biscoitos Águia Central, mudando a dinâmica econômica e social da região. Entre 1950 e 1960, o bairro se tornou um reduto para imigrantes espanhóis e alemães, além de artistas. A partir da década de 1970, o cenário foi transformado com o surgimento de construções verticais, sinalizando a transição do Rio Vermelho para um espaço residencial e comercial dinâmico.
Aspectos Ambientais
O bairro do Rio Vermelho é uma área urbanizada caracterizada pela predominância de construções verticais desordenadas, com uma infraestrutura baseada em asfalto e calçamento de paralelepípedos. A cobertura vegetal no bairro é limitada a 12,2% de sua área total, com apenas 9,65% de áreas verdes, compostas por jardins e vegetação espalhados de maneira pontual, o que evidencia a escassez de espaços naturais no território. O bairro apresenta um elevado fluxo de pedestres e veículos, o que reflete a alta densidade urbana e a intensa atividade comercial e residencial, mas a presença de árvores e vegetação ainda contribui para a qualidade ambiental, apesar de sua quantidade reduzida.
Um dos principais desafios ambientais do Rio Vermelho refere-se à gestão do esgoto sanitário, especialmente no que diz respeito ao canal do Rio Lucaia, localizado na Avenida Juracy Magalhães Júnior. Esse canal, integrante da bacia hidrográfica do Rio Vermelho, desempenha um papel fundamental no esgotamento sanitário da cidade, conduzindo cerca de 60% do esgoto de Salvador para o emissário submarino local. Embora o processo de tratamento do esgoto seja essencial para o manejo do resíduo urbano, ele gera preocupações ambientais relacionadas à poluição e aos impactos negativos sobre o ecossistema marinho da Baía de Todos os Santos, destacando-se como um dos principais conflitos ambientais da região.
População
O bairro do Rio Vermelho, em Salvador, apresenta um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,959, o que o classifica como uma região de desenvolvimento humano muito alto, destacando-se como um dos bairros mais desenvolvidos da cidade. Em termos demográficos, o bairro é caracterizado por uma população predominantemente composta por mulheres (55,2%), com uma representatividade masculina de 44,8%. Em relação à composição étnica, 54,85% da população é composta por negros, refletindo uma diversidade étnica, embora com uma presença majoritária de pessoas de outras etnias.
O bairro também se destaca por seu baixo índice de analfabetismo, com apenas 0,95% da população sem acesso à educação formal, evidenciando um bom nível educacional entre seus habitantes. Esses fatores combinados demonstram um bairro com elevada qualidade de vida, refletida não só no desenvolvimento humano, mas também na escolaridade e na estrutura demográfica.
Economia
O perfil econômico do bairro do Rio Vermelho é marcado por uma renda média que se situa entre 2 a 5 salários mínimos, refletindo um padrão econômico intermediário. De acordo com o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Lei nº 9069/2016), o Rio Vermelho está classificado como Zona Predominantemente Residencial (ZPR-5), o que significa que a área é destinada majoritariamente a usos residenciais, sendo permitidos outros usos desde que conciliáveis com a função residencial. Em virtude dessa classificação, não há indústrias no bairro, o que contribui para a preservação de sua vocação habitacional.
O bairro é amplamente reconhecido por seu perfil boêmio, com uma grande concentração de bares, restaurantes e casas noturnas, especialmente ao longo da orla marítima, atraindo tanto moradores quanto turistas. Além disso, a atividade pesqueira artesanal é mantida por pescadores locais que praticam a pesca tanto para subsistência quanto para comercialização. Estes pescadores estão associados à Colônia de Pescadores Z-1, que os representa legalmente perante as autoridades e outras entidades da sociedade civil, destacando-se como um importante segmento da economia local.