Lobato
Histórico
O bairro do Lobato, localizado às margens da Baía de Todos os Santos, possui uma rica história marcada pela navegação e pela transformação urbana. A ocupação do espaço intensificou-se a partir de 1850, com a construção da estrada de ferro Calçada-Paripe, que facilitou a expansão rumo ao subúrbio ferroviário. Antes disso, a área era predominantemente rural, ocupada por fazendas. A inauguração da estação do Lobato em 1935 impulsionou o comércio e os serviços locais, trazendo infraestrutura como energia elétrica e transporte, além de permitir a instalação da fábrica de tecidos São Brás, que contribuiu para a formação da Vila Operária.
A história do Lobato também é marcada pela descoberta do primeiro poço de petróleo brasileiro na Rua do Amparo, em 1939, que influenciou ainda mais o crescimento da região. Na década de 1970, um evento climático severo desabrigou muitas famílias, levando à construção de novas casas pelo governo para os moradores afetados. Ademais, o bairro se tornou uma alternativa para os residentes da região dos Alagados, que enfrentavam deslocamentos devido a processos de urbanização. Esses fatores evidenciam como o Lobato se consolidou como uma área significativa dentro do contexto urbano de Salvador, refletindo tanto as transformações econômicas quanto sociais da cidade.
Aspectos Ambientais
O bairro do Lobato está inserido na Baía de Itapagipe, que faz parte da Baía de Todos os Santos, uma Área de Proteção Ambiental (APA) criada com o intuito de proteger os recursos naturais da região. No entanto, a Baía de Itapagipe apresenta sérios impactos ambientais devido à contaminação por metais pesados, esgoto doméstico e resíduos industriais. Estudos realizados pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA) revelaram a presença de metais tóxicos, como chumbo e zinco, oriundos de indústrias têxteis e efluentes domésticos. A região também sofre com a eutrofização das águas, resultado do lançamento de esgoto bruto e resíduos de manutenção de embarcações, o que contribui para um ambiente insalubre, especialmente nas áreas da Cabaceira do Sul, Jardim Lobato e a Enseada dos Tanheiros.
Além dos problemas ambientais, a região também enfrenta uma grande perda de vegetação nativa. Entre 2001 e 2009, a cobertura vegetal no bairro do Lobato foi reduzida em 34%. Em algumas áreas do bairro, como a região da Cabaceira do Sul, foi constatada a urbanização sem a presença de vegetação nativa, além da degradação do manguezal e da contaminação das águas. A criação da pista de borda em 2008/2009, embora tenha visado o desenvolvimento urbano, pode ter exacerbado a remobilização de sedimentos contaminados com mercúrio, aumentando os riscos à saúde e ao meio ambiente. A ausência de manguezais e o descarte inadequado de esgoto e lixo nas águas evidenciam os desafios ambientais enfrentados pelo Lobato.
População
O bairro do Lobato é o segundo mais populoso da região, com 29.169 habitantes, representando 9% da população total da cidade, de acordo com o Censo de 2010. Entre 1991 e 2000, o bairro experimentou um crescimento populacional de 16,5%, passando de 25.732 para 29.966 habitantes. No entanto, no período de 2001 a 2010, houve uma leve diminuição de 3% na população. A distribuição de gênero é semelhante à da cidade de Salvador, com 53% de mulheres e 47% de homens. Em termos de faixa etária, a maioria da população está concentrada na faixa de 20 a 49 anos (51,09%), enquanto a população com mais de 65 anos representa apenas 4,6%.
Em relação à composição étnica, Lobato apresenta uma população predominantemente parda e negra, que juntas correspondem a 89,62% da população do bairro. Esse dado destaca o Lobato como um dos bairros da Cidade Baixa com a maior representatividade negra, superando a média de Salvador, onde 52% da população se identifica como parda e 28% como negra. A população branca do bairro representa apenas 9,05%, um percentual significativamente inferior ao da cidade de Salvador, onde os brancos compõem 28% da população. Além disso, o bairro conta com uma pequena presença de pessoas amarelas (1,22%) e indígenas (0,11%).
Economia
O bairro do Lobato apresentou um crescimento significativo no rendimento médio dos responsáveis por domicílios entre 1991 e 2000, com um aumento de 95%. Em 2010, houve um acréscimo mais modesto de 4,6%. Contudo, ao comparar os dados de 1991 e 2010, observa-se uma mudança no perfil de rendimento: em 1991, 48,5% dos responsáveis por domicílios recebiam entre 1 a 3 salários mínimos, enquanto em 2000 esse percentual caiu para 35,4%. Em 2010, quase 50% dos responsáveis recebiam até 1 salário mínimo, refletindo uma redução da classe média e o aumento da população com rendimento mais baixo. Além disso, 45,59% da população do bairro tem uma renda de 1 salário mínimo, sendo 32,54% dessa renda proveniente de trabalho autônomo.
O comércio formal do Lobato é majoritariamente voltado para a venda de alimentos, utilidades domésticas, bebidas, autopeças e materiais de construção. A Avenida Afrânio Peixoto se destaca como o principal eixo comercial, concentrando os principais estabelecimentos como a Azevedo Madeireira e postos de combustíveis. No centro do bairro, há uma grande variedade de pequenos comércios, como mercados de pequeno porte, mercearias, bares, restaurantes, distribuidoras de gás e panificadoras, com uma presença reduzida na região do Alto da Boa Vista. A Rua Aterro do Joanes também abriga um importante supermercado, o Cesta do Povo. O comércio no bairro é caracterizado pela diversidade, mas a análise não permitiu uma estratificação detalhada por tipo e porte de estabelecimentos comerciais.
Infraestrutura
Em termos de infraestrutura, o Lobato apresenta indicadores positivos, com 99,27% dos domicílios atendidos por abastecimento de água, 96,83% com coleta de resíduos sólidos e 90,01% com esgotamento sanitário. O bairro é cortado pela Avenida Suburbana e pela antiga linha férrea do Subúrbio, que, embora desativada em 2021, desempenhou papel crucial na mobilidade urbana da região. Equipamentos públicos, como escolas e unidades de saúde, atendem à população local, embora desafios relacionados à segurança e à urbanização ainda persistam.​
Patrimônio Histórico
O patrimônio histórico do Lobato é rico e diversificado. Além de ser o berço da exploração petrolífera no Brasil, o bairro abriga a Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores e diversos terreiros de religiões de matriz africana, evidenciando a diversidade cultural da região. A Praia do Lobato oferece uma vista privilegiada para a Enseada dos Tainheiros, sendo um espaço de lazer e contemplação para os moradores. Iniciativas culturais, como o Acervo da Laje, também contribuem para a valorização da identidade local e o fortalecimento da comunidade.​
