Mata Escura
Histórico
O bairro da Mata Escura, situado em Salvador, é uma área predominantemente habitada por moradores de baixa renda, incluindo carpinteiros, pedreiros, costureiras, catadores, ambulantes, comerciantes e desempregados, conforme afirmam Caldas e Santos (2011). A localização estratégica do bairro, que se estende entre a Avenida Luiz Viana Filho e a BR-324, facilita o acesso por diversas vias, mas a infraestrutura local permanece carente. Historicamente, a região remonta ao período imperial, quando pequenos povoados e grandes áreas de engenho coexistiam. A Mata Escura foi fundamental para o abastecimento de água da cidade, especialmente após a construção da Barragem da Mata Escura e do Prata pela Cia do Queimado em 1880, que serviu a cerca de 60.000 habitantes de Salvador.
A formação cultural da Mata Escura é profundamente marcada por sua origem quilombola, servindo como refúgio para escravos africanos fugitivos, que encontraram na mata abrigo e um espaço para cultos religiosos, especialmente o Candomblé. A fundação do Terreiro do Bate Folha em 1916, que abrange 14,8 hectares, simboliza essa herança cultural. Além disso, as décadas de 1930 e 1940 trouxeram a construção de loteamentos nas áreas industriais periféricas, atendendo à crescente demanda por habitação da classe operária, um fator que contribuiu para a consolidação do bairro como um aglomerado residencial significativo dentro da dinâmica urbana de Salvador.
Aspectos Ambientais
A topografia do bairro apresenta relevo acidentado, com vales e elevações que variam de 25m a 80m de altitude, característica de terrenos sobre embasamento cristalino localizado na região leste da falha geológica de Salvador. O solo argiloso, resultante da alteração dessas rochas, combinado com as altas declividades e ocupações irregulares nas encostas, cria áreas de risco, especialmente nos períodos chuvosos, quando há possibilidade de deslizamentos de terra. Até 1987, as represas do Prata e da Mata Escura abasteciam Salvador, mas o fluxo foi interrompido devido à baixa vazão e à poluição da água.
A vegetação ao redor das represas, remanescente da Mata Atlântica, é composta por árvores de grande porte, como jaqueiras, mangueiras e eucaliptos, além de vegetação aquática de menor porte. Aproximadamente 25% da área do bairro é coberta por vegetação, enquanto 74% é ocupada por edificações e 1% permanece vazio. A área também abriga 14 hectares tombados pelo IPHAN, relacionados ao Terreiro Bate-Folha, e 24 hectares remanescentes de Mata Atlântica, que incluem núcleos do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Alimentação), IBAMA e a represa do Prata.
População
Com base nos censos demográficos de 2000 e 2010, a população do bairro aumentou 25,6%, passando de 23.524 habitantes para 32.349, o que representou um crescimento de 37,5% na primeira década do século XXI, com uma taxa anual de 3,2%. Esse crescimento fez com que a participação do bairro na população total de Salvador saltasse de 0,96% em 2000 para 1,2% em 2010. Em termos demográficos, a maioria da população do bairro em 2010 era composta por homens (51%), com uma predominância masculina mais acentuada na faixa etária de 20 a 29 anos (55%). A partir dos 55 anos, as mulheres superam os homens, com uma maioria expressiva de mulheres entre os 70 anos ou mais (mais de dois terços dessa faixa etária).
Em relação à composição étnica, o bairro é majoritariamente formado por negros e pardos, que representam 85,1% da população, sendo 53,6% pardos e 31,5% negros. Essas porcentagens superam as médias de Salvador, onde os pardos correspondem a 52% e os negros a 28% da população. Em contraste, a população branca do bairro é significativamente menor (12,9%) em comparação com a cidade (44,6%). A renda no bairro é gerada por 59% da população em idade ativa (17.421 pessoas), com uma renda total mensal de R$ 13,15 milhões, resultando em uma média de R$ 754,94 por pessoa remunerada.
Economia
A economia formal do bairro da Mata Escura é composta por pequenos mercados, oficinas mecânicas, escolas particulares, clínicas de saúde e diversos comércios e serviços, concentrados principalmente na Av. Cardeal Avelar Brandão Villela e na Rua Direta da Mata Escura. Contudo, a informalidade predomina na dinâmica econômica local, com muitos moradores empreendendo negócios informais como meio de subsistência, o que é evidenciado pela dificuldade de acesso a dados econômicos oficiais. A presença dos complexos prisionais na região também é um fator relevante, gerando um intenso fluxo de pessoas, especialmente durante os horários de visitação, o que impulsiona o comércio informal, com a venda de lanches, serviços de guarda-volumes, aluguel de roupas, moto-táxis e aluguéis de casas próximas.
Além de fomentar a economia informal, os complexos prisionais oferecem uma oportunidade para o desenvolvimento de atividades industriais intensivas em mão de obra, aproveitando os baixos custos do trabalho dos detentos, cuja remuneração pode ser de apenas 75% do salário mínimo, sem direitos trabalhistas como férias, 13º salário e FGTS. Essa prática configura-se como um elemento da dinâmica econômica local, que, apesar de informal, contribui significativamente para a sobrevivência dos moradores e para a manutenção de uma ordem mínima na região, especialmente nos períodos de visita aos estabelecimentos prisionais.