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Periperi

Caracterização do bairro

Nesse tópico serão abordados os aspectos históricos, ambientais, sociais e econômicos do bairro de Periperi, analisando suas principais características.

Histórico do bairro de Periperi
Contexto Historico

A modernização industrial a capital baiana, assim como o aumento das ligações com outras regiões principalmente pelo fluxo de mercadorias foi viabilizada através da linha férrea e pelos transportes marítimos. A linha férrea do Leste Brasileiro (VFFLB), linha original da E. F. Bahia ao São Francisco, em Alagoinhas, aberta entre 1860 e 1863, e posteriormente incorporada ao governo baiano em 1903, e em 1911 entregue à concessão da Cia, Chemins de Fer Federaux du L’Est Bresilien, que passa pelo subúrbio de Salvador, onde em 1980 o último trem de passageiros de longo percurso passou pela linha, e atualmente trafegam no trecho Calçada-Paripe, apenas trens elétricos metropolitanos.

Com o crescimento de Salvador, em meados do século XX, a área central da cidade passou a ser delimitada pelos serviços de administração, comércio e finanças, e ao seu redor, a ocupação se deu pela elite local. A valorização do preço da terra nas áreas centrais não permitiu que a classe trabalhadora pudesse ocupar essas regiões, tendo que se deslocar para as áreas suburbanas da cidade, onde o valor dos terrenos era menor. Sendo este um dos principais motivos para a ocupação da classe econômica no subúrbio, também caracteriza a segregação socioespacial ocorrida no centro da cidade e no Subúrbio Ferroviário.

A segregação residencial, impulsionada pela elite nas áreas “nobres”, e imposta sobre os grupos sociais do Subúrbio, resultou em uma carência de infraestrutura básica de serviços. Caldeira (1988, apud PIMENTEL, 1999, p.21) explica que o conceito de periferia “além de indicar distância aponta para aquilo que é precário, carente, desprivilegiado em termos de serviços públicos e infra-estrutura” tornou-se mais adequado para qualificar a região nos dias atuais.

A modernização da capital baiana levou as indústrias têxteis a se localizarem nas áreas suburbanas, sendo um dos principais motivos para o surgimento dos bairros no subúrbio. Nesse contexto de consolidação da industrialização em Salvador, também com a implantação das refinarias de petróleo juntamente com a instalação do Centro Industrial de Aratu (CIA) em Simões Filho, e na década de 1960. Na década de 1970 com o surgimento do Polo Petroquímico de Camaçari, o processo de ocupação do subúrbio é intensificado. Segundo Souza (2016) outro fator bastante relevante para a consolidação dos bairros do Subúrbio Ferroviário foi a construção da Avenida Afrânio Peixoto, mais conhecida como Avenida Suburbana (Figura 2), na década de 1970.

 

Figura 2: Avenida Afrânio Peixoto, abril 2017. Fonte: Google Maps

Segundo Peixoto et. al (1965, apud PIMENTEL, 1999, p.21) esses bairros eram definidos como “aglomerado dormitório”, conceito muito utilizado na década de 1960, visto que parcela da população passava o dia fora trabalhando, seja na estrada de ferro, na Base de Aratu ou no centro, só retornando à noite. Apesar a função industrial nos bairros do subúrbio, eles caracterizavam principalmente por ser residenciais.

A região metropolitana de Salvador surgiu em 1972, onde o subúrbio, deixando de ser o tradicional local de veraneio da classe média baiana, passou a ser definido como periferia da capital

Histórico de Periperi

O terreno original em forma de charco, onde fazia uma alusão à “folha de junco” foi o motivo pelo nome do bairro de Periperi, datada no século XVI, uma aldeia indígena, habitada pelos índios tupinambás, onde sua grafia primitiva, peripery, piripiri ou piri-piri, significando, para uns, capim-capim ou capinzal, e, para outros espécie de junco que cresce nos terrenos pantanosos e do qual se fazem esteiras.

Destaca-se no conjunto dos bairros do subúrbio, situado na porção norte do subúrbio ferroviário entre os bairros de Coutos (Norte), Praia Grande (Sul), Fazenda Coutos (Nordeste), Rio Sena (Sudeste). É possível chegar a Periperi (Figura 3) através da Avenida Suburbana, pela BR 324 ou de trem, desfrutando de uma belíssima paisagem do Subúrbio e da Baía de Todos os Santos.

Figura 3: Localização de Periperi no mapa destacado em vermelho. Fonte: Google Maps

O bairro caracterizava-se por ter sido fazendas do engenho de açúcar, nos anos 1820, e passou a se desenvolver com a construção da estrada de Ferro Bahia ao São Francisco, a estação de Periperi (Figuras 4,5 e 6), inaugurada em 1860. Teve um novo prédio construído em 1938. O prédio atual foi construído em 1981 (Figura 7), específico para os trens de subúrbio. A consolidação da ocupação do bairro de Periperi acontece junto com a construção da então estrada de ferro e com a industrialização de Salvador.

Barreto (2011) destaca que com a descoberta do petróleo no subúrbio de Lobato, em 1939, e ao longo da mesma década, Periperi, banhada pelo rio Paraguary, cujo nome significa rio dos papagaios, continuou a se desenvolver como bairro residencial.

“Desde as últimas décadas do século XIX, a edificação de algumas casas dera origem a uma rua longa, a rua da estação, oficialmente chamada de Av. Dois de Julho, porém por todos conhecida como Rua da Frente. Nela moravam funcionários da Leste. Já a diretoria, os mestres de linha e os mestres de obra 16 tiveram suas belas casas construídas do outro lado dos trilhos, e bem mais perto do mar.” (Barreto, 2011, p. 13)

 

Figura 4: As antigas oficinas de Periperi em 1861. Atualmente as oficinas não existem mais. Fotografia de Camilo Vedani. Foto do site https://www.estacoesferroviarias.com.br

 

Figura 5: A estação em 1944, como era na época. A estação aparece à direita na foto. Junto a ela, o "trem de alumínio". Foto do site www.vfco.com.br, oriunda do relatório da ferrovia de 1944, cedida por Alexandre Santurian

 

Figura 6: Um tem do subúrbio construído nas oficinas de Periperi. Foto do site: https://priscillahistoria.blogspot.com/

 

Figura 7: Estação de Periperi, 2019. Foto do site https://informa1.com.br

 

O início da ocupação de Periperi foi marcado pelas oficinas e olarias, onde era pertencente aos operários da Linha Férrea. De acordo com Fonseca e Silva (1992 apud SOUZA, 2016, p. 52), estes operários começaram a construir casas no sentido linear nas proximidades da linha férrea, originando também a denominada Rua da Estação. Barreto (2011) também descreve como os trabalhadores chegavam ao bairro, e como funcionava a vigia:

 

“Muitos dos ferroviários, porém, moravam por todo o povoado, e outros mais chegavam de trem para trabalhar nas oficinas, galpões que ficavam depois da Rua dos Coqueiros, perto da praia. Durante toda a noite, um vigia badalava as horas num sino. Trajando azul (calça, blusão e boné), esses homens começavam a trabalhar às 7 da manhã, na fundição, tornearia, 17 carpintaria e na manutenção dos vagões, máquinas e linhas do trem. Dizem que, às 11h, quando a sirene apitava para o almoço, e mais ainda às 4 da tarde, quando acabavam o expediente, esses homens enchiam as ruas do azul escuro e sujo de suas roupas, como um rio.” (Barreto, 2011, p. 13-14)

Na década de 1930 e 1940, Periperi também continha colônias de pescadores, porem nessa mesma década começa uma ocupação de famílias que vinham para o bairro com o intuito de passar o verão. Dentre seus visitantes, o escritor Jorge Amado, onde a cultura deste bairro está retratada na literatura em algumas obras: "O capitão de longo curso", "Baía de Todos os Santos" e “Os velhos marinheiros” (1961). Assim o escritor Jorge Amado descreve a vida no Subúrbio Ferroviário nas primeiras décadas do século. Amante de todos os cantos de sua terra natal, a Bahia, o escritor escolheu o Bairro de Periperi para ambiente físico do romance Os Velhos Marinheiros, em 1961:

 

"Só de raro em raro um fato inesperado rompe a monotonia dessa vida suburbana. Isso de março a novembro, porque nos três meses de férias, dezembro, janeiro, fevereiro, todos esses arrabaldes da Leste Brasileiro, dos quais Periperi é o maior, o mais populoso e o mais belo, enchem-se de veranistas. Muitas das melhores residências ficam fechadas durante quase todo o ano, pertencem a famílias da cidade, abrem-se apenas no verão. Aí então anima-se Periperi, invadido de repente por uma juventude álacre: rapazes a jogar futebol na praia, moças de maiô estendidas ao sol na areia, barcos a cruzar as águas, passeios, piqueniques, festinhas, namoros sob as árvores da praça ou na sombra dos rochedos”.

No livro, Jorge Amado discorre as aventuras do Comandante Vasco Moscoso de Aragão, que ao chegar em Periperi muda a rotina dos moradores. Ao mesmo tempo em que o leitor acompanha a saga do personagem, o autor consegue retratar no livro aspectos da paisagem e do modo de vida da população, assim como os costumes do bairro, que na época era considerado 18 como a capital do Subúrbio Ferroviário. Jorge Amado descreve a população do bairro com alguns pescadores e poucos comerciantes, geralmente donos de padarias, bares, armazéns e farmácias, e também de aposentados e retirados dos negócios.

A grande fazenda de Periperi, passou a pertencer de seu dono, Coronel Frederico Costa, mais tarde passaram a pertencer à família Visco, onde na década de 1950, este senhor e seu genro Almáquio Vasconcelos começaram a construir casas em suas terras, inicialmente perto da metalúrgica, onde o rendimento do aluguel das mesmas passou a ser maior que a lucratividade da fazenda. (SOUZA 2016).

Ainda sobre a ocupação dessa época, Souza (2016) destaca que a área, atravessada pelo Rio Paraguary, tendo sua nascente no bairro Fazendo Coutos foi durante muitos anos a principal fonte de alimentação para a população que ocupava Periperi. Atualmente o rio se distribui por um trecho canalizado (Figura 8). Entretanto, neste período o bairro não possuía um contingente populacional significativo, haviam apenas um pequeno aldeamento indígena e uma colônia de pescadores.

 

Figura 8: Vista aérea do rio Paraguary. Data desconhecida. Fonte da Imagem: https://picdeer.com/peri_cityss

 

Barreto (2011) descreve que nesse tempo eram visíveis as valas de água transparente e os muitos riachos e córregos que cortavam os caminhos, alguns afluentes do rio Paraguary. Muitos também eram os charcos, os sapos, as jias e as cobras que surgiam com a chuva.

 

“Por suas ruas de barro, não passavam carros, mas carroças, cavalos, bois, além da gente do lugar, que tinha o ar de interior, entre o mar tranquilo e a mata 19 fechada. Essa mata escondia fontes de água fresca, nascentes, minadouros, como a Fonte do Capim e Mané Paulo, aonde as lavadeiras chegavam com suas trouxas de roupa na cabeça, e de onde os homens saíam empurrando grandes barris de madeira, que tinham uma alça de ferro e duas correias de borracha; esses barris, que iam rolando, foram apelidados de “rola-rola”. Barris menores eram carregados por jegues. Os moradores se viam obrigados a ir buscar ou a comprar essa água cristalina, já que a água das bombas era salobra, “água de gasto”, servindo só para os banhos, o chão, os pratos e as plantas.” (Barreto, 2011, p. 14-15)

Destaca-se também a construção de uma rodovia, em 1950, ligando Periperi à estrada de Salvador – Feira de Santana, onde facilitou o trânsito e a residência para os operários que trabalhavam nas indústrias da proximidade, como a Fábrica de Cimento Aratu e da Petrobrás.

Com a ocupação do subúrbio na década de 1970, e a população que não foi incorporada aos conjuntos habitacionais construídos, passam a se localizar nas margens do Rio Paraguary. Periperi deixa de ser um bairro frequentado por veranistas, em sua maioria a classe alta de Salvador. Após a construção da rodovia, a prefeitura de Salvador inaugurou uma linha de ônibus para a população. Os investimentos em infraestrutura na área beneficiaram os proprietários fundiários e comerciantes, cuja classe média baixa, onde antes residia nos arredores do centro da capital, e com o aumento do capital imobiliário sobre o valor do aluguel, passa a se dirigir para as áreas suburbanas da cidade (FONSECA E SILVA, 1992).

O crescimento populacional começa a se intensificar após a década de 1940, acompanhando o crescimento da cidade de Salvador. Ademais, Souza (2016) descreve que o sistema ferroviário apresentava uma estagnação. Em 1969 foi construído, pela URBIS1 (Figura 9), o primeiro conjunto habitacional, com o nome de Dom Eugênio Sales, no final de 1970 e início de 1980 foram implantados os conjuntos habitacionais de Mirantes e Colinas de Periperi.

 

1 A HABITAÇÃO E URBANIZAÇÃO DA BAHIA S.A (URBIS), é uma sociedade de economia mista, constituída por tempo indeterminado, nos termos da lei estadual nº 2.114 de 04/01/1965 (Fonte: https://www.urbis.ba.gov.br).

 

“A população de classe média foi substituída pela de baixa renda, as residências expandiram-se para além do litoral, ocupando os morros e as áreas da mata. O ar bucólico cedeu espaço ao caos urbano, na formação de favelas e no crescimento desordenado das famílias. As praias, poluídas, atraem apenas a população local, sem maiores recursos financeiros" (PIMENTEL, 1999, p.37- 38).

 

Figura 9: Distribuição da propriedade dos terrenos em Periperi em 1981. Fonte: Souza (2016)

 

Juntamente com a construção da Avenida Suburbana na década de 1970, o crescimento do bairro, e a falta de trabalho em parte da população suburbana encontram no comércio informal uma alternativa para tirar sustento da família. As casas foram utilizadas como ponto comercial, para servir de mercearias, bares, barbearias, mercadinhos, lanchonetes, salões de beleza, borracharias, etc.

 

“Cumpre salientar que, ao longo dos anos, a ocupação desordenada intensificou as áreas marginalizadas. Por sua vez, as invasões desceram das encostas e baixadas para as margens da Avenida Suburbana. A densidade populacional assustava e desafiava os órgãos públicos, fossem eles tecnicistas ou humanistas. Devido a esse sério problema de moradia, o bairro de Periperi foi contemplado com um projeto de habitação popular pelo Governo Federal, sendo construído o conjunto Eugênio Sales em 1972, que contava com quase trezentas unidades e era uma alternativa para superar as gritantes injustiças sociais.” (SOUZA JR., 2017, p. 149)

 

Também se destaca a Cidade de Plástico (Figuras 10 e 11), ocupação fundada em agosto de 2006, onde localizava-se a oficina que ficavam os trens velhos, fundada por mulheres. Situava-se à beira mar, abrigando cerca de 260 famílias. O nome da comunidade veio do material utilizado para levantar as primeiras habitações durante a ocupação, como lonas, de cerca de 60 pessoas na época. Em 2019 foi concluído o conjunto Guerreira Zeferina, construído onde era a cidade de Plástico, que trouxe melhor qualidade de vida para as famílias.

O resultado do processo de urbanização de Periperi, apesar de incialmente manter uma característica industrial, hoje é predominantemente residencial, onde o resultado, percebendo-se em 2019 é a segregação residencial, através das classes dominantes sobre os demais grupos sociais, reproduzindo as relações sociais de produção do espaço (FONSECA E SILVA, 1992). Sendo assim, Periperi ainda convive com muitos problemas de infraestrutura, saneamento básico e violência.

 

Figura 10: Vista aérea da cidade de plástico. Foto do site https://www.jornalgrandebahia.com.br/cidadede-plastico-em-salvador/

 

Figura 11: Comunidade Guerreira Zeferina, 2019. Foto do site: https://www.correio24horas.com.br/noticia/ni d/prefeitura-entrega-segunda-etapa-daguerreira-zeferina-neste-sabado-26/

Mudanças em Periperi segundo morada

A percepção das mudanças ocorridas no bairro também é retratada por Marli Guimarães, 53 anos, moradora e nascida no bairro de Periperi, onde retrata que só havia o transporte coletivo na suburbana e o trem. As escolas eram todas públicas, e as ruas não tinham iluminação pública a não ser a via principal. A feira, hoje um local movimentado, era menor, e também havia somente um supermercado, o Braga. A única praça do bairro era a Praça da Revolução, elemento marcante do bairro até os dias atuais, e retrata liberdade dos moradores para sair pela madrugada, onde funcionava o chamado Cosme Damiao, dois guardas noturnos que apitavam um para o outro. Os alimentos eram transportados pelo trem até Alagoinhas, e a praia era bem explorada por marinheiros e pescadores. O trânsito era pacato, sem grande intensidade de veículos, e as famílias eram mais comprometidas com o bairro.

Em relação a plantação, pesca e sobrevivência, Marli cita que haviam plantações nessa área e a agricultura familiar era bem explorada, com produtos como mandioca para farinha, verduras, legumes e frutas, assim como a criação de aves e porcos. A pesca destaca-se por ser o principal sustento de muitas famílias, tanto para vendas quanto para sua própria alimentação. Marli também cita a ocupação dos índios tupinambás, e as fazendas do século XX, onde Periperi era um maravilhoso local de veraneio para os aposentados, e retrata a longevidade dessa condição no bairro, onde assim que inaugurou a Avenida Antônio Peixoto prejudicou a qualidade de vida dos moradores, causada principalmente pelo crescimento da população vinda para trabalhar no Polo Petroquímico, tanto o de CIA como o de Camaçari.

Por fim, Marli retrata as mudanças ocorridas no bairro, como a pavimentação das ruas, rede de esgotos, a implantação da delegacia com uma melhor estrutura, e também uma delegacia de atendimento à mulher, um centro de abastecimento de alimentos, a construção da Urbis, assim como a criação dos conjuntos colinas e mirantes de Periperi. A água encanada também passou a ser uma mudança, assim como a UPA (Unidade de Pronto Atendimento), implantação de bancos, hospital do subúrbio, clínicas e lojas, posto de gasolina, muitas academias e a Praça do Sol. Mas também retrata muitas perdas como a extinção do único cinema e as derrocadas de dois clubes conceituados, onde haviam muitos sócios. Ela também retrata a mudança da cidade de plástico para a Comunidade Guerreira Zeferina, onde retrata um local tomado pela miséria e pela dor, onde a fome, as drogas, os crimes levavam a muitas mortes quando a polícia invadia o local, causando também mortes de inocentes.

Aspectos ambientais

Segundo o Dicionário Socioambiental Brasileiro (2009), bacia hidrográfica é o conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus afluentes. A noção de bacia hidrográfica inclui, naturalmente, a existência de cabeceiras ou nascentes, divisores d´água, cursos d´água principais, afluentes, subafluentes, etc.

Contudo, nos dias atuais, ocorrem dois problemas fundamentais no que diz respeito às questões antrópicas e as bacias hidrográficas e seus rios e afluentes: a quantidade de água disponível e a sua qualidade para determinado fim, em decorrência da ausência ou planejamentos ambientais inadequados, (Porto &Porto, 2008).

A bacia do rio paraguai

O bairro de Periperi apresenta estreita relação como Rio Paraguari, que integra e constitui-se no rio principal da Bacia de mesmo nome, com nascente na região da Estrada Velha de Periperi, no bairro de Coutos.

A Bacia do Rio Paraguari, conforme constante no documento “Caminho das Águas” “possui uma área de 5,84 km2, o que corresponde a 1,89% do território soteropolitano, sendo uma das menores da capital do Estado. Encontrase limitada ao norte e a leste pela bacia do Cobre, a oeste pela Baía de Todos os Santos e ao sul pela Bacia de Drenagem de Plataforma”. (SANTOS et. al, 2010).

Segundo Santos (2004) a Bacia Hidrográfica do Rio Paraguari possui seu exutório na Baía de todos os Santos, sendo denominada também bacia de Periperi, e está enquadrada na região administrativa das Águas do Recôncavo Norte. A relação entre o bairro e o Rio Paraguari é apresentada em Souza (2009, p.51):

 

"A área era atravessada, em quase toda sua extensão, pelo rio Paraguari. [...] [sendo] durante muitos anos fonte de alimentação para a população ocupante da área. [...] Porém, neste período, o bairro não contava com um contingente populacional significativo. Havia apenas um pequeno aldeamento indígena e uma colônia de pescadores."

 

Nesse sentido, é importante destacar que grande parte da área ocupada do bairro de Periperi está localizada em região de baixada, tendo ficado, ao longo de muitos anos, sujeita às enchentes do rio. Registra-se, a partir da década de 1970, a ocupação desordenada de suas margens - com a construção de casas de palafitas -, em decorrência de um intenso processo de migração de pessoas oriundas da zona rural da Bahia rumo à cidade do Salvador, em busca de oportunidades, quando da implementação do Centro industrial de Aratu (CIA).

A ocupação do leito do rio impossibilitou a passagem das águas do rio em direção ao mar, resultando em enchentes nos períodos de chuvas, principalmente em períodos de maré alta. Até o final da década de 1980 esse rio, nos períodos chuvosos, alagava muitas ruas em Periperi, causando transtornos e desabrigando centenas de famílias. No início da década de 1990, é quando ocorre o processo de drenagem do rio e da retirada dessas casas, resultando em uma verdadeira mudança, quando o rio flui naturalmente ao encontro do mar.

Souza (2009, p.54) faz uma abordagem do perfil do bairro de Periperi, com foco na ocupação inicial das palafitas ao longo do rio Paraguari, descrevendo a genêse de sua drenagem, a partir da década de 1990:

 

"De acordo com um [...] morador desta área do bairro, o Rio Paraguari tinha uma extensão muito grande e atravessava toda a área do brejo. As primeiras ocupações nestas imediações eram em palafitas e quando chovia os alagamentos tomavam grandes proporções alcançando a parte da frente do bairro.

Na década de 1990 começou a obra de macrodrenagem do canal do Rio Paraguari, a área de brejo foi aterrada e o rio canalizado, segundo informações dos moradores, depois da obra, os alagamentos diminuíram. O canal tem um aspecto ainda insalubre, margeado por ruas estreitas e por muitas residências, às vezes o maucheiro é grande e alguns moradores se queixam por causa dos dejetos jogados no rio por outros moradores da vizinhança."

 

Atualmente o rio Paraguari ainda convive com sérios problemas, sendo um deles, lançamento de dejetos, o que impossibilita o banho de mar, já que é despejado nas praias de Periperi. Tal fato decorre, principalmente, da alta densidade populacional da região do Subúrbio, com rebatimentos diretos na degradação ambiental e poluição dos rios, resultando na redução da qualidade de vida da população local. Conforme exposto Santos (2010) são “identificados diversos impactos socioambientais que promovem a degradação ambiental dos corpos hídricos receptores, que conduzem poluentes, contaminantes, sedimentos suspensos e resíduos flutuantes, gerados por variadas e ampliadas atividades humanas, provocando perdas irreparáveis à qualidade de vida”. (SANTOS, 2010, p. 299).

No que tange aos aspectos geomorfológicos, Santos (2004, p.124) apresenta um estudo sobre a localização da Bacia hidrográfica do Rio Paraguari (BHRP), em relação a origem geomorfológica, que corresponde aos domínios dos “mares de morros” em estrutura de embasamento cristalino, constituído de rocha metamórficas de alto grau, granulíticas e gnáissicas. Vale ressaltar que as análises dos aspectos geofísicos da BHRP parte de um estudo que leva em consideração sua localização dentro de uma escala regional, considerando que os elementos do quadro natural, agem de forma integrada e dinâmica, assim definindo dentro dos espaços as paisagens.

No que se refere aos solos, registram-se graves problemas de erosão da BHRP, o qual tem impactos diretos no processo de ocupação urbana, com perdas de solo geralmente, elevadas. Ainda afirma que o sítio geomorfológico da BHRP se encontra submetido à intensa ablação e ao transporte, onde a pedogênese está sob a estreita dependência da morfodinâmica, uma vez que as intervenções sociais negativas no uso e ocupação do solo tem determinado a amplificação desses processos.

Um outro aspecto importante a ser destacado, conforme aponta Santos (2004) refere-se à importância da vegetação no sentido de amenizar a intensidade da ação dos elementos climáticos na bacia pesquisada, proporcionando uma certa “estabilidade” no sistema ambiental, a exemplo da estabilidade das encostas. Além disso, representa um elemento determinante da qualidade ambiental da bacia hidrográfica, pois reflete as condições ambientais e características dos subsistemas ecológicos, nos quais está inserida.

Ainda de interesse ao presente trabalho, registra-se as ponderações de Santos (2004) relativamente ao impacto das atividades sócio-econômicas sobre a bacia, as quais ocasionam “alterações e/ou mudanças no sistema ambiental, às vezes drásticas e possivelmente, acarretam interferências em escala microclima, com sucessivas inundações que ocorrem no Vale do Paraguari”.

 

"No que tange aos aspectos morfológicos, o sistema fluvial da BHRP apresenta extrema fragilidade no seu equilíbrio dinâmico, tornando-o suscetível às alterações ambientais que se dão respectivamente, direta ou indiretamente através de intervenções humanas efetivas, a exemplo de obras hidráulicas (retilinização de canais) e ocupação urbana em áreas de planície fluvial (aterramentos). Ambas antropizações modificam a morfologia dos canais e produzem desajustamento do sistema. (Santos, 2004)"

 

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o clima no município do Salvador é tropical predominantemente quente, com maior concentração de chuvas no inverno e verão seco. Chega-se a extremos de 15 °C no inverno e a 38 °C no verão. A brisa oriunda do Oceano Atlântico deixa agradável a temperatura da cidade mesmo nos dias mais quentes.

População

Periperi situa-se na região do subúrbio de Salvador (Figura 12), formada por 15 bairros. Conforme o CONDER (2016), o bairro mais populoso segundo o Censo de 2010 é Paripe, e o menos populoso o bairro de Ilha dos Frades. (Figura 13). A população do subúrbio em 2010 era de 283.415, composta de 47,47% do sexo masculino, enquanto 52,21% do sexo feminino.

 

Figura 12 - Composição do Subúrbio Ferroviário de Salvador. Fonte: CONDER, 2016

 

Figura 13 - População residente no Subúrbio Ferroviário. Fonte: CONDER, 2016

 

Ainda, a densidade demográfica do subúrbio, segundo a CONDER (2010), e de acordo com os dados do censo do IBGE, variou de 42,56hab/ha de 1991 para 102,06hab/ha em 2010 (Figura 14), onde Periperi teve um aumento de 27,4% na densidade demográfica, passando de 109,43hab/ha em 1991 para 139,49hab/ha em 2010 (Gráfico 1).

 

Figura 14 - Densidade demográfica nos bairros do Subúrbio Ferroviário. Fonte: CONDER, 2016

 

Gráfico 1 - Densidade demográfica de Periperi hab/ha. Fonte: CONDER, 2016

Evolução, composição e distribuição espacial

O bairro de Periperi é o segundo mais populoso do subúrbio de Salvador, segundo o censo demográfico do IBGE (2010), no qual sua população consiste em 47.886 habitantes, sendo que a delimitação do bairro é estabelecida pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER), de acordo com a Figura 15, cuja poligonal utilizada aproxima-se da que é definida pela CONDER.

Percebe-se que o bairro é dividido em 56 setores censitários, possuindo uma média de 855,1 habitantes por setor (Figura 15). Além disso, o menor setor apresenta 380 habitantes, enquanto o maior com 1672.

 

Figura 15 - População de Periperi por setor censitário. Fonte: IBGE 2010.Elaborado pelos autores

 

De acordo com a Figura 16, considerando o raio de abrangência de 20m, nota-se que a maior concentração de população do bairro localiza-se ao norte do bairro, justamente onde encontra-se a Praça da Revolução, local onde se concentra a atividade econômica. Além disso, também se destaca a proximidade com a Avenida Afrânio Peixoto, mais conhecida como Avenida Suburbana.

Figura 16 - Mapa de calor da população total de Periperi. Raio de abrangência de 20m. Fonte: IBGE, 2010. Elaborado pelos autores.

 

Quanto a população total residente no bairro, apresentou um aumento de 27,47% de 1991 para 2010, sendo de 37.011 habitantes para 47.886, como mostrado na Gráfico 2. Observa-se na Gráfico 3, que a população do sexo masculino reduziu em 1,93% de 1991 a 2010 enquanto a feminina aumentou em 1,78%.

 

Gráfico 2 - População total residente em Periperi. Fonte: IBGE, elaborado pelos autores

 

Gráfico 3 - População total residente por sexo em Periperi (em %). Fonte: IBGE, elaborado pelos autores

 

A população total residente por cor/raça em Periperi, segundo o Censo do IGBE (2010) é composta por 12,44% brancos; 30,96% preta; 1,89% amarela; 54,47% parda e 0,24% indígena. Enquanto na população total residente por faixas etárias, destaca-se a diminuição de 34,25% de 0 a 4 anos de 1991 para 2010, com o aumento da faixa etária acima de 65 anos, de 1991 para 2010 com 65% (Gráfico 4). Isso porque, seguindo a tendência da cidade de Salvador, há um processo de envelhecimento da população.

 

Gráfico 4 - População total residente por faixas etárias (em %) em Periperi. Fonte: IBGE. Elaborado pelos autores

Rendimentos e responsabilidades pelos domicílios

Da população em idade ativa (PIA) do bairro, 40,5% recebem até 1 salário mínimo (SM), enquanto essa porcentagem cai a partir de 10 SM, no entanto, 17,9% das pessoas residentes do bairro não possuem rendimento (Gráfico 5). O reflexo sobre a renda do bairro ser predominantemente baixa, pode ser explicado pela situação de vulnerabilidade que o bairro se encontra. Isso porque, segundo Carvalho e Pereira (2008), mesmo com o crescimento econômico ocorrido também na região do subúrbio entre 1970 e 1985, os problemas relacionados a pobreza e a ocupação mostraram-se persistentes, agravando-se a crise nos anos 1990. Enquanto a indústria dependia dos capitais e mercados do centrosul e do exterior, a reestruturação da economia brasileira afetou a dinâmica econômica e as condições de emprego. Sendo assim, a precariedade ocupacional se ampliou e os níveis de remuneração decresceram.

No entanto, o aumento da renda desde 1991 até 2010 foi de 87,3%, conforme mostrado no Gráfico 6, o que indica que o bairro de Periperi, sofreu uma melhora. Ademais, também é importante destacar que o salário mínimo em 2000 era de R$ 151,00, no ano de 2010, R$ 510,00 e em 2015, R$ 788,00.

Percebe-se na Figura 17, pela porcentagem, que a maioria das responsáveis pela renda das pessoas residentes no bairro ganhando 1 SM localizam-se na parte Leste do bairro, enquanto as melhores condições concentram-se na parte próxima a Praça da Revolução.

 

Gráfico 5 - PIA 2010 em Periperi. Fonte: IBGE, 2010. Elaborado pelos autores

 

Gráfico 6 - Rendimento médio dos responsáveis por domicílios particulares permanentes (%). Fonte: IBGE, 2010. Elaborado pelos autores

 

Figura 17 - Responsável pela renda da população residente ganhando até 1 SM (%). Fonte: IBGE, 2010. Valores corrigidos para 31/12/015. Elaborado pelos autores

Economia

O perfil econômico do bairro de Periperi, cuja característica principal é a oferta diversificada de bens e serviços, se revela como periférico em relação à Cidade de Salvador, todavia com centralidade relativa ao Subúrbio Ferroviário.

A segunda metade do século XX foi marcada por processos espaciais que derrubam a antiga forma centralizadora de Salvador, expandindo a área central para outras regiões da Capital, “posto que nas últimas décadas, vários centros comerciais estão se desenvolvendo bastante, como são os casos da Calçada, Liberdade, Barra, Pituba, Iguatemi e Avenida Tancredo neves, onde estão concentrados bancos, lojas especializadas, clínicas, sedes de empresas, etc”.

Neste período Periperi se consolida com centralidade econômica em relação ao Subúrbio Ferroviário, posição relacionada a fatores políticos, econômicos e institucionais observados ao longo de sua história. Visto que o bairro já na década de 1960, se destacava no subúrbio ferroviário pelo fato de concentrar maior quantidade de serviços relacionados ao setor terciário e também apresentando uma maior diversificação e especialização do comércio (SILVA E FERREIRA, 1992), mantendo-se assim até os dias atuais.

Desta forma, como visto, Periperi e outros subcentros da Cidade de Salvador foram consolidados em áreas de habitação popular como resultado do processo de crescimento populacional e expansão do tecido urbano. “Correspondem a esses as áreas comerciais e de serviços de Itapuã e São Cristóvão, localizadas próximas ao perímetro urbano; Paripe e Periperi, no Subúrbio Ferroviário; e São Caetano, no Miolo Central. (SANTOS, 2008)

Assim, diferentemente de Centros como o Itaigara e a Barra, em que os consumidores são oriundos das áreas mais nobres de Salvador. Em Periperi, como em outros subcentros localizados na periferia pobre, tem seus consumidores também são originados em bairros populares de seu entorno (SANTOS, 2008).

Comércio e serviços (informalidade)

Periperi possui uma população de quase 50 mil habitantes, que é cerca de 80% maior que os municípios do interior baiano. Para atender a essa população, apresenta diversos estabelecimentos do setor de comércio e serviços.

Assim, a variada quantidade de instalações permite o acesso da população no próprio bairro a lojas de roupas e sapatos; açougues; mercados, distribuidores de bebidas, farmácias, materiais de construção, madeireiras, escola de língua estrangeira, laboratório de análises, churrascaria, fastfood, supermercados bancos, feiras livres e um pequeno Shopping (Figura 18).

 

Figura 18 - Shopping Center Periperi. Fonte: https://ba.mgfimoveis.com.br/

 

O Gráfico 7, compara o rendimento nominal médio e rendimento nominal por faixa salarial em Periperi e nos bairros do Subúrbio Ferroviário de Salvador que apresentam respectivamente o menor e o maior valor para este indicador nos anos de 1991, 2000 e 2010.

 

Gráfico 7 - Rendimento médio dos responsáveis por domicílios particulares permanentes em Periperi. Fonte: CONDER, 2016. Elaborado pelos autores

 

Sua análise revela que a renda média dos responsáveis por domicílios particulares permanentes (R$) em Periperi é superior aos valores apresentados pela média do Subúrbio Ferroviário, entretanto inferior à média apresentada pelo Município de Salvador. Além disso, o Gráfico 8 mostra o rendimento médio mensal do bairro, de acordo com resultado dos questionários.

 

Gráfico 8 -Rendimento mensal de Periperi segundo questionários. Elaborado pelos autores

O Gráfico 8 mostra que a maior parte da população de Periperi recebe até 1 SM, além disso, o Gráfico 9 mostra que a maior parte da origem da renda da população é por trabalho autônomo, e que 72,13% das pessoas não recebem benefícios do governo, ficando apenas 23,61% recebendo o Bolsa Família. Ainda, segundo o resultado dos questionários, 65,13% das pessoas dizem trabalhar no bairro, enquanto 34,87% não, sendo Paripe, Brotas, Pituba e Caminho das Árvores os bairros onde a população mais se desloca para trabalhar.

Gráfico 9 - Origem da renda de Periperi segundo questionários. Elaborado pelos autores

 

Mercado Municipal de Periperi

 

O Mercado Municipal de Periperi (Figuras 19 e 20), foi inaugurado pela Prefeitura de Salvador em 03/07/2015 e funciona em todos os dias da semana, entretanto com maior movimentação na manhã de sábado. Sua estrutura é composta de 218 tendas, 20 boxes, 12 pontos de vendas de mariscos e produtos hortifrutigranjeiros, 01 lanchonete e 06 banheiros, sendo toda a estrutura do Mercado Municipal possui acessibilidade necessária para atender ao público, contando com rampas e corrimões.

Nos primeiros dias que se seguiram à abertura do Mercado, os comerciantes que ficavam na rua foram transferidos para a nova composição. E em parceria com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas da Bahia (Sebrae), a Secretaria Municipal de Ordem Pública do Município de Salvador (Semop) organizou treinamento e capacitação para os comerciantes.

A pesar de ser um equipamento com poucos anos de inaugurado, o Mercado é atualmente considerado esvaziado pelos comerciantes que se queixam da baixa quantidade de clientes no local.

Segundo os mesmos, parte dos comerciantes e ambulantes deixaram as dependências do Galpão e voltaram a buscar os clientes nas ruas do entorno o que impede que as pessoas frequentem em maior número o espaço do Mercado e está provocando o fechamento de boxes.

 

Figura 19 - Mercado Municipal de Periperi. Fonte: https://varelanoticias.com.br/com-218- tendas-mercado-municipal-de-periperi-serainaugurado-nesta-sexta

 

Figura 20 - Mercado Municipal de Periperi. Fonte: https://varelanoticias.com.br/com-218- tendas-mercado-municipal-de-periperi-serainaugurado-nesta-sexta-03/

 

Shopping Chão

 

Outra feira-livre de Periperi, que abriga tradicional comércio informal de mercadorias novas e principalmente usadas é conhecida como Shopping Chão (Figuras 21 e 22). Ela existe a cerca de quinze anos e tem esse nome porque mesmo apresentando algumas barracas de lona e varais estendidos, os vendedores dispõem a maior parte de suas mercadorias no piso da Praça da Revolução localizada neste bairro de mesmo nome e com um detalhe: sem quase nenhuma proteção para os efeitos do sol ou da chuva.

As vendas ocorrem em todos os dias da semana, contudo o maior movimento do Shopping Chão de Periperi é registrado nas manhãs de sábado, quando diversas pessoas se concentram para comprar e para vender variados tipos de produtos, sendo alguns novos, mas a maioria usados que vão desde roupas, sapatos, livros, peças de automóveis e motocicletas, equipamentos elétricos, a até gêneros alimentícios.

A Feira é uma espécie de bazar coletivo, onde os preços são considerados muito baixos quando comparados com aqueles praticados por estabelecimentos formais, além disso, é prática comum em quase toda negociação, a chamada pechincha.

Os comerciantes dizem que a maioria das mercadorias tem origem em doações e por isso se torna possível praticar valores tão reduzidos que atraem moradores não só do Bairro, mas de todo o Subúrbio Ferroviário.

 

Figura 21 - Shoppping Chão de Periperi. Fonte: https://g1.globo.com/bahia/bahia-meiodia/videos/t/edicoes/v/conheca-a-famosafeira-livre-do-bairro-periperi-no-suburbioferroviario/6662542/

 

Figura 22 - Shopping Chão de Periperi. Fonte: http://g1.globo.com/bahia/bahia-meiodia/videos/t/edicoes/v/conheca-a-famosafeira-livre-do-bairro-periperi-no-suburbioferroviario/6662542/

Turismo

Registra-se que o Subúrbio Ferroviário com seus 18 km de belas praias de águas calmas e mornas da Baia de Todos os Santos que impressionam pela beleza, sendo parte dessa Orla pertencente ao Bairro de Periperi. Contudo, assim como outros bairros do Subúrbio Ferroviário, apesar de apresentar potencial turístico, não possui a infraestrutura e a segurança que poderia atrair um público externo para a sua visitação.

Assim, ainda que tenham sido realizadas melhorias recentemente na infraestrutura em praias como São Tomé de Paripe e Tubarão, em geral, na Orla suburbana se tem desorganização de comércio e serviços, além de acessos inadequados e a existência de esgoto a céu aberto como ocorre na Praia de Periperi.

Desta forma, embora desde o início da ocupação da Praia de Periperi, a partir da década de 1920, existir referência a sua ocupação como balneário (SILVA E FERREIRA, 1992), esta não apresenta atualmente as condições necessárias para ser um dos pontos turísticos da Capital baiana.

Administração Pública

Compete a administração pública vista como um conjunto de princípios, diretrizes, objetivos e normas de caráter permanente que orientam a atuação do poder público, a atenção aos assuntos destinados ao interesse comum.

Neste sentido, o Estado exerce a importância de principal ator com a finalidade de formular e executar políticas públicas não percebida no bairro de Periperi, que devido a velocidade na expansão da cidade de Salvador, absorveu parte do crescimento da população da capital baiana, exercendo o posto de acomodação de um contingente populacional de baixa renda e desassistidos pelos poderes públicos e que permanece em condição semelhante. Ainda que concentre importante percentual da população da capital baiana, a administração pública não demostra prioridade política.

Instituída pela lei 8.376/2012, Artigo nº 13, a Secretaria Geral de Articulação Comunitária e Prefeituras-Bairro é uma unidade representativa da Prefeitura. Embora localizada em Paripe, a Prefeitura Bairro tem atuação em todo o subúrbio ferroviário e Ilha. Esta é a principal manifestação da Administração Pública no bairro de Periperi. Foi constituída com objetivo de facilitar o acesso a população aos serviços disponibilizados pela Administração pública. Tem o papel de interação com a comunidade, com o propósito de evitar o deslocamento até a sede de cada órgão, além de identificar as necessidades locais. Tem também a intenção também da participação da comunidade na gestão pública, além da articulação entre os órgãos governamentais, não governamentais e demais secretarias municipais.

A prefeitura Bairro oferece para a população de Periperi, assim como para todo os demais bairros do Subúrbio serviços como o de cadastramento para o Bolsa Família, Casa Legal, solicitações de limpeza e tapa-buracos.

No equipamento estão presentes a Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza (Semps), Secretaria de Infraestrutura e Defesa Civil (Sindec), Secretaria de Ordem Pública (Semop), Limpurb, Coordenadoria de Defesa do Consumidor (Codecon), Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo (Sucom), entre outros. Parcerias com o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), Junta Militar e INSS viabilizam a prestação de serviços por esses órgãos.

Destaca-se o projeto Ouvindo Nosso Bairro, através de reuniões públicas regulares, com representantes de Periperi, onde elegem os principais pleitos da comunidade. As intervenções realizadas pelo projeto abrangem: área de lazer, transporte, recapeamentos asfálticos, limpeza, segurança, iluminação pública. O programa resultou na aprovação do projeto de Lei nº 355/2017, que instituiu o Ouvindo Nosso Bairro na Câmara Municipal de Vereadores de Salvador, na garantia da continuidade do projeto.

Em contrapeso, nos questionários, uma vez questionada a população a respeito da utilização do serviço público de saúde no bairro a importância de 88,70% dos entrevistados revelaram a necessidade de deslocamento do bairro para a utilização desta modalidade de serviços. Neste mesmo diapasão, quando perguntados a respeito do esgotamento sanitário 59,48% dos moradores entrevistados apresentaram insatisfação. Assim como 56,35% dos entrevistados demostrou insatisfação com a oferta do ensino público no bairro. Resta evidente que mesmo com a implantação da Prefeitura bairro a população demostra ausência da atuação do poder público diante as necessidades locais.

Organização Institucional

O direito à liberdade de associação decorre do direito de criar, a liberdade de aderir ou desligar-se, assim como o direito de dissolver uma associação espontaneamente. A base legal para direito de associação são percebidas na Constituição Federal de 1988, no Código Civil Brasileiro, que regulamenta normas gerais, na Lei de Registro Público, na qual estabelece normas do registro no cartório, na Lei 91/1935, modificada pela Lei 6639/1979, pelo Decreto-Lei 50517/1961 e pela Portaria da Secretaria de Justiça do Ministério da Justiça 11/1990, que possibilita o título de utilidade pública para associações privadas.

A associações de moradores de determinado bairro, estabelece a promoção da cidadania, ou seja, é o entendimento do próprio exercício dos direitos do cidadão e a visão da sociedade como campo de interações e conflitos, é a identificação na semelhança para discursões de interesse comum, oportunizando o cidadão na participação na tomada de decisões de interesse coletivo.

A principal função das associações é sem dúvida a função social, propendendo à constituição de uma comunidade de interesses baseada na defesa de direitos sociais iguais. Visam à criação de formas de inserção social e de responsabilização, assumindo o papel de mediação entre o cidadãos e instituições. (WAUTIER: 2001; p.11).

No bairro de Periperi, notou-se que existe por parte dos entrevistados, a manifesta vontade de colaborar para a melhoria da comunidade, porém acompanhada do sentimento de frustação, tanto porque inexiste iniciativas por parte dos moradores relacionadas a organização de grupos com interesses comuns para constituição de novas associações e a dificuldade de atração de associados para associações já existentes, quanto pelo desinteresse dos moradores neste formato de projeto coletivo.

Esta realidade revelou-se através da aplicação dos questionários, já que no momento em que perguntado a respeito da percepção de investimentos no bairro por parte da administração pública 64,57% dos entrevistados responderam que não visualizam investimentos por parte do poder público. Ficou demostrado significativa insatisfação da população com serviços públicos ofertados no bairro, resultado confrontantes com o pequeno número de associações identificadas no local.

Dentre as associações identificadas ganha destaque a A.M.C.B.V.A - Associação de Moradores da Comunidade do Barreiro, Vale do Paraguary e adjacência:

A associação foi fundada em 11 de outubro de 2008, é uma Associação de moradores, sem fins lucrativos que tem como objetivo geral lutar por justiça social. Nasceu especialmente pelo Interesses de Lutar pela Complementação da Drenagem o Rio Paraguari, trecho Barreiro de Periperi.

O Barreiro, que dá o nome da associação, trata-se de local onde se concentra grande área de charco, é uma das comunidades mais antiga do subúrbio ferroviário. O Barreiro inicia-se a partir da Praça do Sol em direção ao final da Rua da Glória, pegando a Nova Constituinte e o Vale Paraguari.

São desenvolvidas na associação importantes projetos no bairro de Periperi, dentre eles o projeto, Juventude Cidadã: Promovendo Formações e Criando Novos Valores Comunitários, que ocorre através de oficinas de Técnicas 41 de Filmagem, Dicção e Locução, Promoção a Saúde e Mobilização (Figuras 23, 24 e 25).

 

Figura 23 - Projeto Jovem Cidadão. Fonte: https://amcbva.blogspot.com/

 

Figura 24 - Projeto Jovem Cidadão. Fonte: https://amcbva.blogspot.com/

 

Figura 25 - Projeto Jovem Cidadão. Fonte: https://amcbva.blogspot.com/

 

Este projeto tem como objetivos proporcionar a capacitação de 80 jovens de ambos os sexos não só por oficinas, mas também por encontros e trabalhos de pesquisas utilizando alguns instrumentos tecnológicos das comunicações. Mas também, promover reflexões sobre o papel e ações dos meios de comunicação, mobilização e articulação como forma de construção da democracia e pressionar por direitos e políticas públicas adequadas. Por fim, fortalecer a autoestima da juventude, proporcionando a inclusão social a partir de um processo participativo de formação de lideranças nos bairros e comunidades numa perspectiva de prevenção/redução da violência.

Nas entrevistas, caso semelhante ocorreu nos assuntos relacionados à cultura. Embora insatisfação demostrada quando questionados em relação da identificação de elementos culturais de Periperi 88,70% da população revelou desconhecimento de elementos culturais no bairro. Realidade percebida quando verificado que o Instituto Educativo e Cultural Araketu- IAK encontrava-se com sede atualmente desativada no bairro.

O Instituto Araketu teve importante função desde sua fundação no desenvolvimento de trabalho comunitário conhecido mundialmente, destinado prioritariamente, para os moradores da comunidade local que tinham dificuldade de acesso a atividades artístico-culturais.

O Araketu surgiu com o proposito oportunizar a reflexão temas da atualidade. Teve início em 1980 com a atividade dedicada ao ensinamento de percussão. A partir do ano de 1997, nasceram as “Oficinas Araketu”, com o oferecimento de atividade pedagógicas com a utilização da Capoeira de Angola e da Capoeira Regional, adereços, percussão, corte/confecção, dança, teatro e serigrafia. Diante da necessidade de expansão objetivando a formação de jovens empreendedores, surgiu o Instituto Ara Ketu (Figura 26), ainda com a preocupação com a preservação da memória histórico-cultural identificada com as raízes afro-brasileiras.

 

Figura 26 - Fachada do Instituto Araketu. https://www.suburbionews.com.br/

Infraestrutura

Observando os dados secundários sobre a infraestrutura e outros serviços públicos do bairro a partir das características dos domicílios, em geral, pode-se concluir que, de acordo com os dados censitários do IBGE, relativos aos anos de 1991, 2000 e 2010 (Tabela 10), houve uma melhora nos percentuais de abastecimento de água; uma expressiva melhoria na questão do esgotamento sanitário e em relação ao lixo coletado também ocorreu um expressivo aumento no percentual respectivamente.

 

Tabela 10 - Abastecimento de Água. Fonte: IBGE. Censos demográficos de 1991, 2000 e 2010. Santos at al., Caminho das Águas em Salvador, 2010. Elaborado pelos autores

Segue abaixo, o mapa do bairro sobre Abastecimento de Água (Figura 27). Observa-se, na Tabela 11, que apenas 1 setor está na faixa de 27 a 46% com abastecimento; 2 setores se encontram na faixa de 87 a 93% de domicílios atendidos e a maioria dos domicílios de encontram na faixa de 93 a 100% dos municípios atendidos.

 

Figura 27 - Mapa do abastecimento de água

 

Tabela 11- Esgotamento Sanitário. Fonte: IBGE. Censos demográficos de 1991, 2000 e 2010. Santos at al., Caminho das Águas em Salvador, 2010. Elaborado pelos autores

Abaixo, o mapa do bairro sobre Esgotamento Sanitário (Figura 28). Observa-se que apenas 1 setor está na faixa de 27 a 46%; 2 setores se encontram na faixa de 46 a 64% de domicílios atendidos; 4 setores se encontram na faixa de 64 a 82% e a maioria dos domicílios de encontram na faixa de 82 a 100% dos setores atendidos por um Saneamento Adequado.

 

Figura 28 - Mapa do esgotamento sanitário. Fonte: IBGE. Censos demográficos de 1991, 2000 e 2010. Santos at al., Caminho das Águas em Salvador, 2010. Elaborado pelos autores

 

Tabela 12 - Lixo Coletado. Fonte: IBGE. Censos demográficos de 1991, 2000 e 2010. Santos at al., Caminho das Águas em Salvador, 2010. 1991 2000 2010

 

Abaixo, na Figura 25, o mapa do bairro sobre Coleta de Lixo (Figura 29). Observa-se que apenas 1 setor está na faixa de 27 a 46%; 4 setores se encontram na faixa de 71 a 86% e a maioria dos domicílios de encontram na faixa de 86 a 100% dos setores atendidos pela Coleta de Lixo.

 

Figura 29 - Mapa da Coleta de Lixo de Periperi. Fonte: IBGE. Censos demográficos de 1991, 2000 e 2010. Santos at al., Caminho das Águas em Salvador, 2010. Elaborado pelos autores

 

Contudo, em 2010, o abastecimento de água às moradias do bairro de Periperi era 98,17% realizado por meio da rede geral da Embasa, empresa estadual responsável por este e pelo serviço de saneamento básico; o esgotamento sanitário existia em 87,81% das moradias particulares por meio de rede geral de esgoto ou fossas sépticas e a coleta do lixo é realizada por serviço público de limpeza que atendia 96,08% dos domicílios; em relação a energia elétrica em torno de 99% do domicílios utilizam energia elétrica da companhia distribuidora.

De acordo, com o levantamento realizado através dos questionários aplicados, segue abaixo a percepção dos moradores sobre alguns serviços de infraestrutura fornecidos no bairro, que as vezes não dialogam com os dados oficiais dos órgãos consultados:

 

Gráfico 13 - Ocorrência de Deslizamento de Terra segundo questionários. Elaborado pelos autores

 

Gráfico 14 - Ocorrência de Alagamentos segundo questionários. laborado pelos autores

 

De acordo com a percepção dos moradores em relação aos gráficos 13 e 14, a Ocorrência de Deslizamento de Terra e Drenagem Urbana – Alagamento de rua, observa-se que 91% dos entrevistados responderam que não existe deslizamento no bairro, porém 9% da amostra entrevistada, relatou que existe. Em relação a questão de alagamento na rua do domicílio, o percentual de não alagamento é de 69%, enquanto 31% da população amostrada relata que ocorre alagamento na rua. Pode-se concluir problemas de drenagem; áreas sem serviços adequados de escoamento superficial, acúmulo de resíduos sólidos nas sarjetas, bueiros e ou bocas de lobo.

Em relação ao Gráfico 15, referente a Presença de Mosquitos, observase um montante de 53% de entrevistados na faixa que se sentem muito incomodados a incomodados. Retrata possíveis problemas de ocorrência de chuva; acúmulo de resíduos sólidos indevidamente descartados ou a sazonalidade da época que foi realizada a pesquisa. 

 

Gráfico 15 - Ocorrência de mosquitos segundo questionários. Elaborado pelos autores

 

No item referente Iluminação Pública, verifica-se que os entrevistados estão na faixa de satisfeitos a muito satisfeitos com um percentual de 53%, sendo que 23% dos entrevistados da amostra foram indiferentes ao questionamento (Gráfico 16).

 

Gráfico 16 - Satisfação com a Iluminação Pública segundo questionários. Elaborado pelos autores

 

No quesito Rede de Esgoto (Gráfico 17), a percepção da amostra entrevistada, demonstra que ainda o bairro é deficitário, carente de um melhor serviço a ser ofertada para a população, como percebido nas informações obtida através do IBGE, nos censos de 1991, 2000 e 2010.

 

Gráfico 17 - Satisfação com a rede de esgoto segundo questionários. Elaborado pelos autores

 

No abastecimento de água (Gráfico 18), a percepção dos moradores ainda reflete o incômodo que ocorre na prestação do serviço por parte da concessionária que presta o serviço à comunidade, pois 35% na faixa de Muito incomodado a incomodado e com 20% da amostra sendo indiferente, revela um sentimento de não estar sendo atendido como deveria ocorrer normalmente com a prestação do serviço. A concessionária possui programas de Qualidade e Excelência, que primam pelo atendimento de qualidade de um bem essencial a manutenção da vida humana.

 

Gráfico 18 - Satisfação com o abastecimento de água segundo questionários. Elaborado pelos autores

 

O Gráfico 19, sobre Coleta de Lixo, retrata a faixa de muito satisfeito a satisfeito um percentual de quase 71%. Em comparação aos dados oficiais, existe uma melhoria significativa deste serviço básico de infraestrutura. 

 

Gráfico 19 - Satisfação com a coleta de lixo segundo questionários. Elaborado pelos autores

 

Em termos de Pavimentação das Ruas (Gráfico 20), o gráfico abaixo, retrata uma percepção boa da população amostrada sobre o serviço ofertado pela Prefeitura do Município.

 

Gráfico 20 - Satisfação com a pavimentação das ruas segundo questionários. Elaborado pelos autores

 

Em termos de Transporte Público, o Gráfico 21, demonstra que metade da amostra se encontra na faixa de muito satisfeito a satisfeita e a outra metade se encontra na faixa dos muito insatisfeitos a insatisfeitos. Pode ser pelo fato, pelo fato ocorrido da Integração das empresas rodoviárias. Em relação ao meio de Transporte mais utilizado no bairro é o ônibus (56%), seguido do Trem (17%).

 

Gráfico 21 - Satisfação com o transporte público segundo questionários. Elaborado pelos autores

 

Em relação ao saneamento básico adequado no bairro de Periperi, observa-se a seguinte situação, em apenas 1 setor censitário a faixa de percentual foi de 27 a 46%, sendo o mesmo setor, também em relação ao item abastecimento de água; dois setores tiverem a ocorrência na faixa de 46 a 64% e cinco setores se encontram na faixa de 64 a 82%, sendo o restante dos setores na faixa de 82 a 100% dos domicílios com saneamento adequado. Situação retratada no mapa abaixo:

Sistema viário

A Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Mobilidade – SEMOB, deu um histórico e importante passo para a estruturação do sistema de mobilidade do município ao elaborar o primeiro Plano de Mobilidade Urbana Sustentável de Salvador – PlanMob Salvador. Este Relatório tem por objetivo apresentar os resultados das atividades desenvolvidas ao longo do processo de sua concepção, no período de abril a dezembro de 2017.

 

Componentes da Mobilidade Urbana

 

      O PlanMob Salvador segundo os seguintes componentes de mobilidade urbana:

 

      (i) transporte ativo composto pelos deslocamentos a pé, pelo transporte cicloviário e pelo transporte vertical;

 

      (ii) transporte público coletivo urbano contemplando todos os modos previstos e consolidados de Salvador: rede de ônibus urbana e metropolitana, 16% 14% 19% 31% 20% Muito Incomodado Incomodado Indiferente Satisfeito Muito Satisfeito 53 sistemas de alto desempenho (BRT e BRS), metrô, trem suburbano e o veículo leve sobre trilhos (VLT);

 

      (iii) transporte individual contemplando a infraestrutura do sistema viário e o trânsito veicular.

 

O sistema viário da cidade está organizado em quatro vias: BR-324 e Av. Luís Viana; e em duas outras vias, a Av. Afrânio Peixoto/ Suburbana na Orla da Baía de Todos-os-Santos; e a Av. Octávio Mangabeira, na Orla Atlântica.

Estas, se interligam com um conjunto de vias da região da Área Urbana Consolidada de Salvador: Av. Bonocô, Av. Centenário, Av. ACM, Av. Vasco da Gama, Av. Calmon Viana, Av. Juracy Magalhães Júnior, Av. Anita Garibaldi e também às Rua Cônego Pereira (Largo Dois Leões), Av. Heitor Dias e Av. Barros Reis.

A essas avenidas se complementam as chamadas “vias de cumeada”, em geral posicionadas nas cumeadas dos morros e interligando o centro antigo da Cidade, com as localidades mais periféricas da cidade – Cabula, Pau da Lima, Cajuzeiros, S. Caetano, S. Cristóvão, Itapuã, Boca do Rio, Paripe, etc.

A estrutura viária de Salvador, por ser oriunda de diversas implementações feitas em épocas distintas e com enfoques urbanísticos dissociados, condicionou às suas principais vias uma grande dificuldade para se articularem entre si e, com isso, permitir uma conveniente troca e/ou apoio entre as mesmas, no atendimento dos principais fluxos de tráfego.

Em relação ao bairro estudado, Periperi, existem a disposição da população meios de mobilidade principais como Ônibus, seguido do Trem, fora os transportes alternativos.

O menor grau de integração das vias, neste caso é função, principalmente, das condições do relevo, onde ocorrem as maiores altitudes do município. O sistema viário existente é absolutamente sinuoso em função da topografia local. Além disso, existe a falta de conexão entre os bairros do Subúrbio Ferroviário e destes com o sistema viário estruturador da cidade, que nesta região apoia-se principalmente na Av. Suburbana

Além disso, segundo os questionários, a opção ônibus como principal forma de transporte para deslocamento abrange 55,92% da população, seguida de 17,43% para o trem e 14,80% carro próprio.

O Sistema de Trens do Subúrbio de Salvador é composto por uma linha única, que liga o bairro da Calçada, na Cidade Baixa ao Subúrbio da capital baiana. Composto por 10 estações, o sistema possui um trajeto de aproximadamente 13,5 km entre os terminais finais, localizados nos bairros da Calçada e Paripe.

Condições de Centralidade e Mobilidade

A transformação do espaço em Periperi foi em grande parte resultado das indústrias na década de 1950, e com a construção da rodovia ligando Periperi à estrada de Salvador – Feira de Santana. Villaça (2017) ressalta que mesmo décadas antes, na passagem do século XIX para o século XX, é que surgiram os subúrbios ou periferia pobre, e subequipada, no qual se inseriram no espaço urbano as famílias de baixa renda. As camadas de baixa renda ocuparam parcelas do espaço urbano desprezadas pela classe alta, especialmente as áreas próximas as ferrovias.

Esse processo de ocupação dos subúrbios, transforma o centro das cidades. Até a primeira metade do século XIX, os centros eram em grande maioria cívicos e religiosos. Ao início do século XX o centro começou a sofrer transformações econômicas, sendo então constituído por lojas, confeitarias, restaurantes, hotéis e diversos outros tipos de serviço. Ao mesmo tempo em que essas mudanças ocorrem, a classe alta não só passa a ser o setor que mais ocupava esses locais, como também o principal local de emprego para as mesmas. Com isso, preço da terra no centro aumentou, assim como levou a expulsão das camadas mais pobres para a periferia. (VILLAÇA, 2017).

Essa distribuição de setores dentro do espaço é defendida por Alonso (1964), no qual essas atividades definem a localização das atividades humanas e sociais. Então, as oportunidades atraem as pessoas em determinadas regiões.

No entanto, é improvável saber a época exata em que os subúrbios superaram o centro como área residencial das camadas mais altas. Nessa questão Villaça (2017) destaca que os deslocamentos foram cuidadosamente priorizados, especialmente o deslocamento para o trabalho. Consequência disso foi que as disputas por localizações próximas ao trabalho geraram diferentes tipos de regiões de baixa renda. Então, o centro principal continuou a ser o local onde concentram-se tanto os empregos, quanto o comércio. Afastando-se do centro, as camadas populares disputam proximidade à zona industrial, e consequentemente, há um novo processo de transformação do espaço.

Sendo assim, os subcentros, como Villaça (2017) descreve, são aglomerações diversificadas e equilibradas de comércio e serviço que não são o centro principal, mas ali também se encontram comércio, bancos, escolas, 73 restaurantes, e demais atividades do setor terciário, que buscam atender as necessidades da população residente no local. Ainda, para que os elementos definam uma centralidade, precisam de importantes relações espaciais, que otimizam o uso e a ocupação do território com os deslocamentos espaciais, onde Santos (2006) remete a esses usos do espaço e os deslocamentos numa espécie de “fixos” e “fluxos”.

O bairro de Periperi, apresenta um setor terciário desenvolvido dentro do subúrbio ferroviário, onde pode-se considerar que ele é um subcentro. Dentro dessa questão de oferta de serviços, o bairro também precisa atender as necessidades de equipamentos urbanos. Para isso, segundo Escobar, Gobbato, Luiz et. al (2016), a localização de equipamentos urbanos é um elemento estruturador do espaço, que pode qualificar a vida dos moradores.

Para que um ambiente possua uma equidade em relação as configurações espaciais oferecidas e minimize as limitações de oportunidades dos seus moradores, é importante propiciar equipamentos e serviços urbanos, nos quais Castello, Pitts e Prinz (2008, 2004, 1986 apud Escobar, Gobbato, Luiz et. al. 2016, p. 7), propõem parâmetros de localização de equipamentos e serviços urbanos de diferentes naturezas e demandas.

O critério para determinar a localização desses serviços apoia-se em critérios de distância que as pessoas conseguem percorrer a pé, definindo assim a distâncias máximas dos equipamentos. Para isso, é denominado “raios de abrangência”, onde cada equipamento urbano serve de instrumento para o planejamento urbano e para melhorar a condição de mobilidade dentro do espaço. Portanto, elegeu-se a Tabela 31 segundo Escobar, Gobbato, Luiz et. al (2016), para determinar as distâncias mínimas de cada equipamento urbano. As medidas destacadas em vermelho foram utilizadas para as análises no bairro de Periperi.

 

Tabela 31 - Parâmetros de localização de equipamentos e serviços urbanos. Fonte: Escobar, Gobbato, Luiz et. al (2016). Elaborado pelos autores

 

No que tange aos serviços oferecidos por creches e pré-escola, escolas de ensino fundamental (verde) e escolas de ensino médio, percebe-se (Figura 38) que o setor atende apenas a oeste do bairro, principalmente o raio abrangido por escolas de ensino médio, só existem duas instituições. A Carta do Novo Urbanismo (1996), sugere que os núcleos de atividades cívicas, institucionais e comerciais devem ficar inseridos nos bairros e distritos, e não isolados em complexos multifuncionais distantes. As escolas devem ter tamanho e localização que permitam as crianças e jovens ir a pé ou de bicicleta.

O acesso à assistência de saúde é o mais precário do bairro, com sua Unidade de Pronto Atendimento (UPA) funcionando poucas vezes na semana e carente de profissionais da saúde para atender a demanda. Isso percebe-se no raio de abrangência da UPA (Figura 39). O hospital do subúrbio, apresenta um raio de abrangência que engloba todo o subúrbio ferroviário (Figura 40).

 

Figura 38 - Raios de abrangência do acesso à educação. Fonte: Google Earth, 2019. Elaborado pelos autores

 

Figura 39 - Raio de abrangência do acesso à assistência de saúde - UPA. Fonte: Google Earth. Elaborado pelos autores

 

Figura 40 - Raio de abrangência do Hospital do Subúrbio. Fonte: Google Earth. Elaborado pelos autores

 

No tocante ao acesso ao lazer, o bairro possui poucas praças e equipamentos públicos, justificando a ausência na Figura 41. No bairro existem apenas 2 centros esportivos, no qual são quadras multiuso (verde), e 3 praças (azul). Destaca-se a praça da revolução, no qual está localizada a centralidade do bairro.

 

Figura 41 – Raio de abrangência do acesso ao lazer. Fonte: Google Earth. Elaborado pelos autores

 

Por fim, no que diz respeito à mobilidade (Figura 42), o bairro possui 3 rotas principais, distribuídas ao longo do bairro, as vias principais (azul escuro) são as que o transporte público circula, levando aos principais pontos do bairro, onde atendem a população nas paradas de ônibus (amarelo). Segundo a Carta do Novo Urbanismo (1996), as densidades adequadas de edificação e uso do solo devem ficar a uma distância dos pontos de parada dos transportes coletivos, que possam ser percorridos a pé, para que o transporte público se torne uma alternativa viável ao automóvel.

 

Figura 42 - Raios de abrangência do acesso ao transporte. Fonte: Google Earth. Elaborado pelos autores.

 

É possível perceber que os raios de abrangência convergem com a realidade do bairro. Muitos dos serviços que são ausentes no bairro justificamse com a falta de abrangência desses equipamentos, o que não proporciona aos 78 moradores a vontade de permanência, assim como a busca por outros serviços nos demais bairros da cidade de Salvador.

Educação

A educação é elemento condicionante para minimizar as desigualdades sociais e para subsidiar o desenvolvimento socioeconômico do país. Portanto, a análise dos indicadores educacionais, subsidiada pelos censos da educação básica, não é apenas informativa, mas imprescindível para o planejamento de políticas públicas à luz do cenário educacional visando o desenvolvimento social, econômico, habitacional e cultural.

O direito à educação é uma garantia constitucional. A Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, apresenta os fundamentos de sua organização e filosofia, estabelecendo no artigo 21 a composição dos níveis escolares em educação básica, (formada pela educação infantil, ensino fundamental e médio).

A educação básica, em toda a sua extensão, obriga gratuidade por parte do Estado. A LDB também delega aos Estados e aos Municípios, em regime de colaboração, a organização dos respectivos sistemas de ensino. Os dados da educação básica estão consolidados no censo escolar, realizado pelo INEP anualmente desde 1991, reunindo informações sobre matrículas, estabelecimentos, rendimento escolar, funções docentes entre outras.

As metas estabelecidas para a Educação Básica no Plano Nacional de Educação em vigência estão voltadas para a melhoria do rendimento escolar. Medida pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).

Partindo da meta nacional do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) no Gráfico 22, se estabelece um comparativo entre a média dos resultados alcançados no Brasil, no Estado da Bahia e no Bairro de Periperi, bairro designado para pesquisa, no período de 2011 – 2017. Observa-se que a partir dos resultados alcançados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) que a qualidade da educação no Bairro de Periperi encontra-se em crescimento, permanecendo no ano de 2017 com a média igual a média do Estado da Bahia, apesar de não ter atingido a meta nacional.

 

Gráfico 22 - IDEB - Resultados e Metas - Estudo comparativo entre médias das escolas de Periperi/Bahia/Brasil. Fonte: INEP 

 

Implantado e desenvolvido pelo MEC/INEP, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB é um indicador resultante da combinação do desempenho médio (Prova Brasil e Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica - SAEB). Dos estudantes em exames padronizados ao final de determinada etapa do ensino fundamental (4ª série, ou 5º ano, e 8ª série, ou 9º ano) e o 3º ano do ensino médio, com a taxa média de aprovação dos estudantes da correspondente etapa de ensino (fluxo apurado pelo Censo Escolar). O IDEB estipula metas para serem alcançadas até 2021 em torno da nota 6,0, nível comparável ao dos países desenvolvidos.

Observando a média dos resultados alcançados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), as ações para melhoria da qualidade da educação básica, o que inclui também o acesso e permanência da população em idade regular, melhora as chances de diminuição da criminalidade e outros problemas sociais decorrentes de deficiência na formação intelectual. Entretanto, o desafio está além do atendimento da população em idade escolar, uma vez que segundo dados do IBGE nos censos demográficos de 1991 e 2000 demonstram que um percentual significativo de responsáveis por domicílios no bairro de Periperi possuem uma frequência escolar média de 4 a 7 anos.

Segundo dados do IBGE entre os bairros localizados no chamado Subúrbio Ferroviário no período nos Censos de 1991 - 2010, o bairro de Perperi é o que possui uma das menores taxas de pessoas acima de 15 anos não alfabetizadas. Segundo informações da Secretaria de Educação do Município o bairro de Periperi conta uma estrutura de 8 escolas municipais e de acordo com informações do site: escol.as/cidades o bairro possui 14 escolas particulares e 4 escolas estaduais.

Segundo constatado em pesquisa de campo observa-se que os moradores do bairro de Periperi necessitam se deslocar para outros bairros em busca da Educação Superior, na Educação Básica os mesmos desfrutam das escolas instaladas no bairro. Segundo o IBGE, 90% da população brasileira, maiores de 10 anos de idade, é alfabetizada. A Bahia fica abaixo da média nacional com 84% de sua população, maiores de 10 anos de idade, alfabetizada. Como apresentado e o bairro de Periperi possui uma média de pessoas alfabetizadas, maiores de 10 anos de idade, maior que a média estadual, 86% - 95%.

Na visita de exploração ao bairro de Periperi um equipamento educacional chamou a atenção do grupo que foi a Escola Municipal Guerreira Zeferina, localizada na Comunidade Guerreira Zeferina (Figura 30 e 31), antiga Cidade de Plástico, um equipamento com uma estrutura física pensada em crianças na faixa etária de creche e educação infantil, com banheiros, bebedouros, biblioteca, brinquedoteca, cantina, refeitório, acessibilidade, tudo adaptado para a faixa etária, área verde com parque, todos os espaços projetos pensando no bem estar daquelas crianças que usufruem daquele ambiente. Uma arquitetura pensando na questão da sustentabilidade, sendo escola pioneira na Bahia com a utilização de energia solar, possuindo uma mini usina de energia solar instalada na escola. Segundo a Diretora da Escola Municipal Guerreira Zeferina tem capacidade para atender a 200 crianças e atua nos segmentos de creche e de educação infantil.

 

Figura 30 - Creche Guerreira Zeferina. Fonte: Arquivo pessoal

 

Figura 31 - Creche Guerreira Zeferina. Fonte: Arquivo pessoal

 

Além disso, segundo os questionários realizados no bairro (Gráfico 23), 42,53% da população possui o ensino médio completo, enquanto 7,14% possuem o superior completo e 1,95% não frequentaram a escola.

 

Gráfico 23 - Percentual de escolaridade de Periperi segundo questionários. Elaborado pelos autores.

Saúde

O Sistema de Saúde é muito parecido com um belo projeto arquitetônico de uma casa, construída, entretanto, com materiais de qualidade ruim. É um sistema com excelente projeto e construção que deixa a desejar. O desenho tem uma forma piramidal: uma base composta pelos Postos de Saúde, 147 atualmente em Salvador, que oferecem serviços básicos e são a porta de entrada para os níveis mais complexos. Os Multicentros (5 →12) que oferecem serviços intermediários, serviços ambulatoriais, exames diagnóstico e apoio terapêutico, e as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) (5) que oferecem alguns serviços de urgência, constituem a parte intermediária; o topo da pirâmide é onde estão localizados os hospitais que oferecem serviços de alta complexidade, estes são de responsabilidade do Estado e são em pequeno número: Hospital Geral de Estado, Hospital Roberto Santos, Hospital do Subúrbio, Hospital Menandro de Farias e outros de menor porte. O funcionamento é como descrito a seguir:

 

• 1º. acesso através dos Postos, o que se convenciona chamar de Atenção Básica, onde é feita uma triagem das necessidades reais dos pacientes;

• se necessário o paciente é encaminhado dos Postos para os Multicentros, onde serão realizados exames, com vistas a consolidar diagnósticos;

• após o diagnóstico, o paciente pode entrar nos grupos que serão acompanhados pelo Programa de Saúde da Família – PSF; ou encaminhado para hospitais quando são necessários procedimentos de média ou alta complexidade;

 

No papel, o desenho é muito bom. Na prática não funciona tão bem, a Atenção Básica de Periperi Adroaldo Albergaria, não possui um corpo clínico completo, fazendo com que a população precise se deslocar para outros bairros, de acordo com os questionários o percentual é de 65,35%, onde o local que a comunidade mais procura atendimento é na UPA de Paripe.

 

Hospital do Subúrbio (HS)

 

O Hospital do Subúrbio, localizado na Estrada Velha de Periperi, é a primeira Parceria Público-Privada (PPP) do Brasil, tendo como parceiro a Prodal Saúde S.A. Uma concessão 10 anos. Seu funcionamento é 24 horas, conta com moderno parque de medicina diagnóstica, com bioimagem (radiologia digital, ultrassonografia, ecocardiografia, endoscopia digestiva e respiratória, tomografia, ressonância magnética e hemodinâmica) e laboratório de análises clínicas. Possui um centro cirúrgico com excelentes instalações e um ambulatório destinado ao atendimento de pacientes egressos. Além de centro de bioimagem, raios X, tomógrafo, ultrassonografia, ressonância magnética e endoscopia, dentre outros serviços ofertados ao público.

Inaugurado em 2010 (05 anos), o HS possui 373 leitos. Na terapia intensiva, 10 leitos de UTI pediátrica e 50 para adultos. Possui 253 leitos para internação sendo 60 em internação domiciliar.

Em 05 anos realizou mais de 45 mil cirurgias, 64.384 internações e aproximadamente 2 milhões de exames complementares e 500 mil atendimentos na emergência e no ambulatório. O hospital beneficia cerca de 1 milhão de habitantes de todo o subúrbio, além da população de bairros como Valéria, Cajazeiras, Castelo Branco e Pau da Lima e municípios da Região Metropolitana de Salvador (RMS).

Possui uma equipe de 1.446 funcionários, incluindo 270 enfermeiros, 585 técnicos de enfermagem, sendo os demais profissionais de apoio técnico, serviços gerais, administração e corpo diretor. Conta, ainda, com um time assistencial composto por: um corpo clínico com 394 médicos das mais diversas especialidades. O contentamento da população do bairro com o Hospital do Subúrbio, segundo os questionários é de 89,80% para com o equipamento.

Segurança pública

A segurança pública se faz um grande desafio a ser solucionado, pois interfere diretamente no sistema social. Entender que a segurança é um elemento vital para o convívio humano é determinante para encontrar soluções possíveis. Assim, os Estados vêm tentando encontrar maneiras de minimizar os índices de segurança pública, embora no Brasil a complexidade para alcançar tais objetivos são mais difíceis devido a sua considerável desigualdade social (CORDEIRO, 2014).

Segundo o Ministério de Estado da Justiça e Segurança Pública (2019), as primeiras iniciativas de Polícia Comunitária no Brasil iniciaram em 1988, com a Carta Constitucional, apresentou-se a necessidade de uma nova concepção para as atividades policiais, o que perdura até o ano de 2019.

De acordo com os dados da Secretaria de Segurança Pública de Estado da Bahia (2019), Salvador possui 10 Bases Comunitárias de Segurança (BCS), objetivando a prevenção nas áreas crítica da cidade, que são elas: Complexo do Nordeste de Amaralina, Fazenda Coutos, Bairro da Paz, Uruguai, Calabar, São Caetano, Itinga, Rio Vermelho, Rio Sena e Santa Cruz.

O Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI), aprovado em 2007, que é regido pela Lei nº 11.530/07, traz como foco a prevenção, controle e a repressão da criminalidade, por meio de políticas sociais e também ações de proteção às vítimas, com a integração e cooperação entre Municípios, Estados e a União, tendo a participação da comunidade. Assim, se apresenta uma segurança pública que enfrenta a criminalidade conjugando as políticas de segurança com ações sociais.

De acordo com o decreto 13561 de 02 janeiro de 2012, da Bahia, sobre as unidades operativas e operacionais da Polícia, as Regiões Integradas de Segurança Pública (RISP) e Áreas Integradas de Segurança Pública (AISP), a área que compreende o bairro de Periperi localiza-se na RISP BTS (Bahia de Todos os Santos), pertence a AISP número 5. Na AISP 5 – Periperi, estão localizados a 14ª CIPM (Companhia Independente de Polícia Militar), a 18ª CIPM e a 19ª COM.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia, os índices de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI), caracterizados por homicídio doloso, lesão corporal seguida de morte e roubo seguido de morte, bairro de Periperi apresenta os maiores índices da AISP-5 (Gráfico 24).

 

Gráfico 24 - Controle de CVLI da AISP-5. Fonte: 18ª CIPM da Bahia (Dados até 22 de maio de 2019). Elaborado pelos autores

 

A posição da AISP 5 – Periperi (Gráfico 25), quando comparados com a cidade de Salvador (Gráfico 24), representa a região com maior participação nos índices de CVLI, por estar situada na região do subúrbio de Salvador, no qual Pereira e Corso (2014) citam que por ser uma área marcada por carências, há predominância da população pobre, carência de infraestrutura e altos índices de violência. 

 

Gráfico 25 - Total de vítimas de CVLI na AISP 5 - Periperi e em Salvador de 2014 a 2019 (Dados até 27 de junho de 2019). Fonte: Secretaria de Segurança Pública da Bahia. Elaborado pelos autores

 

De acordo com os dados encontrados na 18ª CIPM e na Secretaria de Segurança Pública da Bahia, percebe-se que houve uma redução dos índices de CVLI no bairro de Periperi, onde mesmo por ser a região que possui maior participação nos índices da capital, a atuação da BCS faz com que haja a redução dos índices de crimes cometidos ao longo dos anos. Embora com a redução de crimes e a atuação da polícia comunitária, 70,92% das pessoas, segundo os questionários, dizem não se sentirem seguros no bairro, tanto para o sexo masculino, com 64,81% quanto para o feminino com 77,78%. Isso se deve ainda ao grande problema com a marginalidade e o tráfico, o que muitas vezes dificulta a ação policial.

Esporte e lazer

Para tratar a questão do lazer se faz necessário repensar qual é o real sentido do lazer no contexto social. No senso comum se tem uma visão do lazer como sendo atividades que ocupam a parte do tempo que as pessoas estão livres, visando meramente o divertimento, restringindo a importância que esse assunto possui no processo de transformação da sociedade contemporânea.

Contrapondo com o entendimento do conceito de lazer do senso comum concebido, apenas como a prática de atividades realizadas no tempo livre das pessoas, emerge uma outra forma de pensar o lazer que vem se destacando nos últimos tempos, principalmente por consequência das discussões e produções realizadas na área, que compreende o lazer como algo “gerado historicamente na sociedade, e que dela emerge, podendo, na sua vivência, gerar também, no plano cultural, valores questionadores da própria ordem estabelecida” (MARCELLINO, 2001).

É necessário que os atores sociais dos municípios entendam as políticas públicas de lazer como um espaço de fortalecimento da cidadania e a sua importância na melhoria da qualidade de vida da população. Essas políticas estão articuladas com a participação da comunidade que, juntamente com um levantamento da realidade local, ajudará na elaboração de projetos que reflitam os desejos e interesses de cada grupo social.

Na perspectiva do lazer e esporte no bairro de Periperi as opções são reduzidas. Os jovens demonstraram insatisfação com a falta de quadras de esporte, praças, praias não poluídas, alegando a necessidade de deslocamento para usufruir de equipamentos de lazer em outros bairros. Observa-se na fala dos entrevistados a grande preocupação com os jovens e o envolvimento na violência e nas drogas, apresentando essas questões como consequência dessa carência no âmbito do lazer.

Partindo do resultado da pesquisa realizada no bairro de Periperi 59,40% das pessoas não reconhecem opções de lazer no bairro, 61,59% não frequentam a praia do bairro se deslocando para bairros vizinhos e 59,47% frequentam bares e restaurantes no bairro. Observa-se que a maioria das pessoas não identificam opção pública de lazer no bairro de Periperi e as pessoas que identificam opções públicas de lazer no bairro citaram a Praça da Revolução e a Praça do Sol como ponto de encontro e de socialização entre os moradores do bairro, porém ressaltam que a falta de segurança em determinados horários impossibilita que eles usufruam desses espaços.

 

Figura 32 - Praça do Sol. Fonte: Arquivo pessoal

 

Figura 33 - Praça da Revolução. Fonte: https://visaocidade.com.br

Habitação

A questão da habitação no subúrbio ferroviário, em especial Periperi, acompanha o processo de urbanização do mesmo. Isso porque Villaça (2017), e que como já visto, é a partir da década de 1970 que ocorre um novo processo de organização territorial das classes sociais nas áreas metropolitanas, as chamadas “invasões”. O que ocorreu é que devido ao alto valor da terra na região central da cidade, induziu a essa população precária a ocupar regiões mais afastadas, e onde não precisaria pagar pela terra.

A consequência desse tipo de ocupação resulta em espaços urbanos sem planejamento e com o crescimento desordenado. Assim, com a consolidação da cidade, intensificou-se a segregação socioespacial da pobreza. Carvalho e Pereira (2008) destacam que é no subúrbio ferroviário que se concentram áreas com mais condições inadequadas em termos habitacionais, onde existem ilhas de ocupação precária nesses bairros, que se originaram quando essas terras não eram valorizadas, nas quais são denominadas ZEIS.

Para Gonçalves e Caldellas (2017) há políticas públicas que buscam medidas para minimizar os problemas de segregação, como as políticas habitacionais, integrando o espaço urbano de uma cidade, e também a criação de mecanismos legais para a gestão urbana democrática, sendo exemplos a legislação de uso do solo e a atribuição e permissão para construir.

Com promulgação da Constituição Federal do Brasil em 1988, introduzse o princípio da função social da propriedade, regulamentado pela Lei Federal no. 10.257/2001, sobre o Estatuto da Cidade, onde Souza (2007) destaca que se consolidou uma nova etapa da política urbana brasileira, seja pelo reconhecimento da cidade informal, via processo de regularização urbanística e fundiária, ou pela disponibilização de um conjunto de instrumentos legais e urbanísticos a fim de interferir na dinâmica seletiva e excludente do mercado imobiliário.

Nesse contexto, o instrumento urbanístico que vem sendo utilizado pelas administrações municipais é o estabelecimento das ZEIS, o qual já vinha sendo usado por algumas administrações municipais, reconhecendo a posse do espaço urbano conquistado, e condicionando um planejamento com participação do poder e da comunidade.

De acordo com o PDDU 2016 – Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano – do município de Salvador, é considerada como ZEIS as áreas destinadas à regularização fundiária (urbanístico e jurídico-legal), e à produção, manutenção e qualificação da Habitação de Interesse Social (HIS) e da Habitação de Mercado Popular (HMP), que se classificam em 5 categorias.

Em Periperi (Figura 34) destaca-se que a maior parte do bairro é constituída pela ZEIS tipo 4, que corresponde aos assentamentos precários ocupados por população de baixa renda, inseridos em Área de Preservação Ambiental (APA) ou em Área de Preservação de Recursos Naturais (APRN), localizados em áreas públicas ou privadas, nos quais haja interesse público em promover os meios para a regularização fundiária e recuperação ambiental, considerando a legislação específica vigente.

 

Figura 34 - ZEIS no Subúrbio Ferroviário e Periperi (contornado em vermelho). Fonte: SEDUR, 2016. Elaborado

pelos autores

Com a delimitação de ZEIS abrangendo quase toda a área de Periperi, pode-se analisar também o aumento no total do número de domicílios por espécie, onde houve um aumento de 78,31% de 1991 até 2010 (Gráfico 26).

 

Gráfico 26 - Total de domicílios em periperi. Fonte: CONDER, 2016. Elaborado pelos autores

 

Nesse quesito, também ocorreu uma mudança no número de domicílios particulares permanentes, onde de 1991 para 2010 o aumento foi de 78,45% (Gráfico 27), enquanto o total de domicílios particulares improvisados teve um aumento em 2000, mas reduziu em 2010. O total de domicílios coletivos apresentou um aumento somente no ano de 2000, e depois seu número reduziu para 0. Já o total de domicílios subnormais subiu de 1991 para 2010, 912,33%, um aumento muito significativo em decorrência do reconhecimento de áreas de ZEIS.

 

Gráfico 27 - Total de domicílios por espécie em Periperi. Fonte: CONDER, 2016. Elaborado pelos autores

 

O percentual de domicílios particulares permanentes próprios bairro teve uma queda de 3,87% de 1991 para 2010. No entanto, os alugados subiram 1,09%, e cedidos diminuiu em 0,54% (Gráfico 28).

 

Gráfico 28 - Percentual de domicílios particulares permanentes por espécie em Periperi. . Fonte: CONDER, 2016. Elaborado pelos autores

 

O número de domicílios particulares permanentes segundo o censo do IGBE (2010) era de 14.027 (Figura 35). Percebe-se que a maior quantidade de domicílios particulares se concentra ao norte do bairro, onde localiza-se a Praça da Revolução, próximos a Avenida Suburbana e da orla.

 

Figura 35 - Total de domicílios particulares permanentes em Periperi. Fonte: IBGE. 2010. Elaborado pelos autores

Nos domicílios particulares permanentes alugados (Figura 36), também ocorre o mesmo fenômeno, a maior concentração está nas proximidades da praça da revolução e da Avenida Suburbana, justificando a centralidade do bairro e a proximidade com os pontos de transporte público (ver item 2.9.7).

 

Figura 36 - Total de domicílios particulares permanentes alugados em Periperi. Fonte: IBGE, 2010. Elaborado pelos autores

 

Por fim, os domicílios particulares permanentes cedidos de outra forma apresentam uma concentração ao sul e a leste do bairro, locais onde a renda é menor (Figura 37) e o preço da terra mais desvalorizado.

 

Figura 37 - Total de domicílios particulares permanentes cedidos de outra forma. Fonte: IBGE, 2010. Elaborado pelos autores

 

No que diz respeito ao tempo de residência no bairro, os questionários aplicados nos setores censitários sorteados, a maior parte que reside concentrase de 20 a 30 anos (Gráfico 29). Dentre isso, os questionários também mostraram que o número de pessoas que moram em um mesmo domicílio fica em média de 7 pessoas (Gráfico 30). Com isso, 89,77% das pessoas declarou gostar de morar no bairro, enquanto 10,23% não gosta. 71

 

Gráfico 29 – Percentual do tempo de residência em Periperi segundo questionários. Elaborado pelos autores

 

Gráfico 30 - Percentual de pessoas que moram no mesmo domicílio segundo questionários. Elaborado pelos autores

Patrimônio histórico cultural

Um dos poucos elementos que ainda se encontra no bairro é a Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Periperi (Figuras 43 e 44), fundada em 1882, faz parte da memória religiosa dos moradores. Segundo Souza Jr. (2017) o desenvolvimento do bairro se deu nos espaços deixados atrás da igreja, e ela consequentemente foi abraçada por esses espaços.

 

Figura 43 - Igreja de Periperi em postal da Edição Litho-Typ. Almeida, datado 1909. Fonte: https://www.salvador-turismo.com/periperi/igreja-periperi.htm

 

Figura 44: Vista aérea de Periperi. Data desconhecida. Fonte da imagem: https://picdeer.com/peri_cityssa

 

Mesmo com um papel de destaque no bairro, a igreja teve grande dificuldade para se comunicar com os grupos populares do bairro. No entanto, na década de 1970 serviu como local de encontro para que a população se encontrasse para discutir os problemas causados pelo crescimento do bairro (SOUZA JR, 2017). Na mesma década, a igreja também busca uma perspectiva de trabalho para desenvolver as políticas sociais e culturais voltados para a população excluída, possibilitando o surgimento das associações de moradores e organizadores populares.

Souza (2009) cita que com a construção da Avenida Suburbana, em 1970, proporcionou um crescimento social, econômico e cultural. Neste período foi o auge dos clubes Flamenguinho e Esporte Clube Periperi, com os bailes de carnaval muito conhecidos, a exemplo o Baiano de Tênis, no qual os moradores relatam essa época com muito orgulho, pelos prêmios que o bairro levava na categoria de organização. Além dos carnavais, O Esporte Clube de Periperi recebeu uma vista do cantor Roberto Carlos. Também se destaca o São João, no qual a festa sempre foi um marco importante para os moradores do bairro.

Além da igreja, também são marcos em Periperi o estádio de futebol, o clube Flamenguinho e o Esporte Clube Periperi, a Praça da Revolução e a Praça do Sol, o colégio Estadual Humberti Alencar Castelo Branco, o Colégio Comercial, o Instituto Araketu e o Castelo (Figura 45) construído por Ailton Rodrigues Santana, com o objetivo de realizar o sonho das pessoas, o espaço funcionava como biblioteca e museu, sendo fechado após sua morte em 2009.

 

Figura 45 - Castelo em Periperi. Fonte: https://andatrilho.wordpress.com/castelo-dos-sonhos/

Considerações sobre o desenvolvimento local

Nesse tópico serão discutidos os problemas atuais do processo de desenvolvimento local, considerando sua dimensão regional, assim como as perspectivas atuais para Periperi, e por fim, sugestões para o planejamento urbano do bairro.

Os problemas atuais do processo de desenvolvimento local

A partir das análises feitas no decorrer do trabalho, percebe-se que Periperi ainda precisa de investimentos em sua infraestrutura. E isso se justifica também pelo descontentamento da população com os serviços que são ausentes no bairro, principalmente na área da saúde e educação. Por isso, segundo os questionários aplicados, 64,57% das pessoas acha que o governo não faz investimentos no bairro, confirmando as análises feitas.

Embora Periperi tenha potencial para desenvolver-se, a falta de investimentos prejudica a qualidade de vida dos moradores. Porém, os questionários mostraram que 69,93% não sente vontade de se mudar do bairro. Isso porque a maioria das pessoas tem um vínculo com Periperi, seja por ter crescido no bairro, ou por não ter escolha e condições de se mudar.

Ademais, Periperi tem um histórico de ocupação informal, resultado da expulsão das classes mais baixas para o subúrbio, o que caracteriza um processo de segregação socioespacial. Isso também pode ser percebido pela sua estruturação interna, onde Villaça (2017) descreve sobre o domínio que as forças que representam os interesses de consumo ocupam o espaço urbano. Esses interesses de consumo resultam na luta de classes para com as vantagens e desvantagens do espaço, e dentre essas vantagens a mais decisiva está em torno da acessibilidade a variadas localizações urbanas, especialmente as mais próximas ao centro urbano.

A grande desvantagem que as classes segregadas apresentam está nas condições de deslocamento. O subúrbio ferroviário fica muito afastado das estações de metrô (Figura 46), por exemplo, e embora tenha a linha férrea, ela não consegue chegar até as centralidades de Salvador, de maneira que quanto mais se desloca para a região do Iguatemi ou do Centro Administrativo, mais longe fica do subúrbio (VILLAÇA, 2017).

 

Figura 46 - Mapa de Periperi e Estação de metrô mais próxima. Fonte: Google Maps, 2019

 

Ao aumentar as possibilidades de deslocamento, com um condições de sistema de transporte adequadas para cada indivíduo, o Estado aumenta o desnível entre as condições de deslocamento das classes sociais, melhorando a acessibilidade de uns em detrimento de outros (VILLAÇA, 2017).

Além disso, a configuração espacial do bairro apresenta graves problemas com relação à sua estrutura urbana, e aqui entendida, segundo Villaça (2017), como um todo articulado de partes que se relacionam. Sendo assim, os equipamentos urbanos que se encontram em Periperi não são suficientes para atender à população.

Quanto à questão dos espaços que foram construídos, eles insistem em delimitar, definir e demarcar. Cacciari (2009) cita que se precisa de lugares onde habitar, e que nesses locais não sejam espaços fechados que contradigam o tempo do território, cujo expressa-se na realidade de Periperi. A orla do bairro é um exemplo disso, onde a pouca faixa de areia restante é delimitada por construções ao seu redor. Ainda, o território em que a comunidade vive expressa um desafio as formas de vida comunitária.

As perspectivas atuais do contexto regional

Periperi é um bairro que vive da atividade do setor terciário, já foi palco de indústrias e agricultura. Sendo uma comunidade que emergiu devido à negligência do Estado, as áreas de segregação ainda continuam elas mesmas encarregadas do seu planejamento urbano. Isso se reflete no governo, no qual não tem proporcionado alternativas adequadas ou dedicado atenção apropriada aos bairros do subúrbio. Nesse contexto, as perspectivas que os moradores esperam para o bairro são relacionadas à melhoria da infraestrutura.

De certa maneira, qualquer planejamento que vise atender as perspectivas no contexto regional, prezando a qualidade de vida e o crescimento econômico do bairro passa pela preocupação com a segurança pública e o acesso à equipamentos de saúde. Periperi ainda apresenta uma grave problemática por ser um bairro muito marginalizado, o que dificulta as obras de infraestrutura.

A região do Rio Paraguari, uma área com potencial imenso para um local de requalificação urbana merece destaque, assim como sua orla precisa de atenção na questão desde a qualidade das calçadas, tratamento de esgoto e coleta de lixo, até as ocupações informais na beira da praia.

A questão do transporte e dos acessos também necessita ser vista, pois é ela que mais caracteriza o bairro e o subúrbio ferroviário em relação à segregação com os demais bairros próximos do centro da cidade.

A Carta do Novo Urbanismo (1996), quando fala sobre as regiões metropolitanas, entendida como uma unidade econômica fundamental no mundo contemporâneo, recomenda que a cooperação do governo, as políticas públicas, o planejamento físico e as estratégias econômicas possam refletir uma nova realidade para o bairro.

Ainda, a Carta descreve que o bairro, o distrito e o corredor são elementos essenciais de urbanização e reurbanização da metrópole. Eles formam áreas que incentivam os cidadãos a assumir responsabilidades pela conservação e desenvolvimento. Os bairros devem ser mistos e fornecerem locomoção a pé. Os corredores são conectores regionais de bairros e distritos, no qual variam de vias largas e ferrovias a rios e avenidas arborizadas.

Nesse contexto, ressalta-se que se seguidos alguns princípios para a melhoria da qualidade de vida dos moradores do bairro, poderá trazer potenciais turísticos, econômicos e sociais para Periperi.

Sugestões para o planejamento físico-urbanístico local

Após a pesquisa feita no bairro de Periperi, pode-se aferir que os elementos estudados mostram um bairro desprovido de infraestrutura que atenda as demandas mínimas de deus moradores, formado por pessoas de baixa renda, carentes de prestação de qualidade aos serviços e equipamentos públicos.

Como citado, Periperi é uma comunidade que emergiu devido às negligências do Estado, ainda mais com a ocupação informal, sendo caracterizado pelas “invasões” no seu espaço.

Apresentando uma configuração residencial, os moradores deparam-se com a dificuldade de acesso a serviços no próprio bairro, tendo que se deslocar para demais localidades para buscar serviços principalmente de saúde e educação.

No entanto, os moradores não podem esperar que apenas planejadores urbanos resolvam a situação, enquanto enfrentam problemas que requerem soluções rápidas.

Mesmo assim, os princípios do planejamento urbano para combater aos problemas recorrentes no bairro são vistos como técnicos e aplicados apenas pela polícia ou por profissionais da área. Para isso, um tópico que se levanta nessa discussão é a questão do urbanismo tático, onde segundo Mike Lydon e Antony Garcia (2011; 2012; 2013; 2014 apud NOGUEIRA; PORTINARI, 2016, p. 179), se constitui um marco para a divulgação e consolidação de alguns dos ideiais

 

"Uma abordagem voluntária e gradual para instigar a mudança; um processo de criação de ideias para os desafios do planejamento em escala local; um compromisso de curto prazo e expectativas realistas; uma atividade de baixo risco, possibilitando gerar recompensas elevadas; o desenvolvimento de capital social entre cidadãos e a construção de competências organizacionais entre a esfera pública e privada (LYDON & GARCIA, 2011, p. 7 apud NOGUEIRA; PORTINARI, 2016, p. 180)."

 

Assim, o urbanismo tático se caracteriza por intervenções imediatas, de baixo custo e bastante simples, no qual podem ser aplicados pelos moradores, ou pela prefeitura com um projeto piloto (NOGUEIRA; PORTINARI, 2016). Começando por essas pequenas intervenções, pode transformar Periperi em uma área mais agradável e segura. No entanto, a participação da comunidade no planejamento urbano não tira as obrigações do Estado para com ele. Precisa ser uma ação controlada por ambos. Esse método pode mudar a maneira como os cidadãos se engajam e conduzem o planejamento da cidade. Dessa forma, a comunidade por alertar o governo sobre as necessidades locais e testarem soluções urbanas a serem posteriormente sanadas.

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