Nazaré
Histórico
O bairro de Nazaré, situado no centro de Salvador, tem seu desenvolvimento intrinsecamente ligado à história da cidade, remontando ao século XIX. O bairro é um microcosmo da evolução urbana de Salvador, refletindo aspectos sociais, culturais, econômicos e ambientais que são fundamentais para sua caracterização (PEREIRA, 1994). Nomeado em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré, a ocupação da área foi inicialmente guiada pelo catolicismo, e Nazaré mantém uma tradição secular, embora enfrente desafios decorrentes das dinâmicas contemporâneas. Hoje, o bairro é considerado estagnado, com pouco desenvolvimento vertical e frequentemente negligenciado pelo mercado imobiliário, mas ainda abriga um variado acervo arquitetônico, abrangendo estilos que vão do colonial português ao modernista.
Nazaré é uma área predominantemente residencial de classe média, com muitos de seus antigos casarões ocupados por entidades federais, estaduais e municipais, além de clínicas e representações comerciais. O bairro destaca-se por sua rica arquitetura, considerada uma das mais completas da cidade, incluindo importantes conventos e igrejas construídas entre os séculos XVII e XIX. A ocupação inicial do bairro se deu pela encosta oeste, formando um núcleo primitivo que se desenvolveu em meio a uma paisagem heterogênea e contrastante. Nazaré é caracterizado por sua diversidade cultural e populacional, refletindo a mistura de gentes e tradições ao longo dos anos (SANTOS, 2012). Localizado entre os bairros de Brotas, Tororó, Barbalho e o Centro Histórico, Nazaré é um dos maiores bairros de Salvador, integrando localidades adjacentes como Lapa, Mouraria e Jardim Baiano.
Aspectos Ambientais
O bairro de Nazaré, localizado na Cidade Alta de Salvador, apresenta um clima tropical quente e úmido, com pluviosidade anual média de 1300 mm, sendo os maiores volumes de chuvas registrados entre os meses de março e agosto. A temperatura média do bairro é de 25,5°C, com variações entre 22°C e 31°C, sendo bem tolerada pela maior parte da população local, com 51,4% dos moradores se sentindo confortáveis com as condições térmicas. A área é caracterizada por relevo acidentado, sobre a falésia da Baía de Todos os Santos, com escarpas de 65 a 85 metros de altura, vales estreitos e pequenos tabuleiros. A rápida urbanização do bairro no final do século XIX resultou na escassez de vegetação, o que intensifica os efeitos das altas temperaturas na área urbana.
Em termos ambientais, o bairro de Nazaré é impactado pela degradação do Rio Lucaia, cujas águas sofrem com a poluição gerada por esgotos domésticos, oficinas mecânicas, tanques subterrâneos de combustíveis e outros resíduos urbanos. O rio, que nasce no próprio bairro, apresenta uma dinâmica morfogenética alterada, com erosão e transporte de sedimentos devido à intervenção humana no relevo local. Além disso, o bairro conta com fontes naturais de água, como a Fonte do Gravatá e a Fonte das Pedras, que são utilizadas pela comunidade em períodos de escassez de água. Contudo, o impacto ambiental gerado pela poluição e a alta vulnerabilidade das águas da bacia do Rio Lucaia comprometem a qualidade de vida dos moradores e a sustentabilidade ambiental da região.
População
De acordo com o Censo de 2010, o bairro de Nazaré, em Salvador, possuía uma população de 12.571 habitantes, com uma predominância do sexo feminino, representando 55,1% da população. A proporção de mulheres no bairro sempre foi superior à dos homens, devido principalmente à maior expectativa de vida das mulheres e à maior mortalidade entre os jovens do sexo masculino. A faixa etária predominante no bairro é a de 20 a 49 anos, que corresponde a 50,62% da população. Apesar do aumento no número de residentes femininos e masculinos, o bairro experimentou uma diminuição no número total de habitantes em comparação aos censos anteriores, com a população caindo de 13.890 em 2000 para 12.571 em 2010. Este fenômeno é indicativo do esvaziamento urbano que tem afetado a região central de Salvador.
Além disso, o Censo de 2010 revelou uma diminuição significativa em todas as faixas etárias do bairro, com exceção da faixa etária entre 50 e 64 anos, que registrou um aumento de habitantes, passando de 1.765 em 2000 para 2.016 em 2010. Esse dado sugere que o bairro de Nazaré está deixando de ser um polo jovem e universitário, caracterizado por uma população mais ativa e em fase de formação, para se tornar uma região com uma população mais envelhecida e dominada por atividades comerciais. Esse processo de envelhecimento demográfico reflete uma transformação no perfil socioeconômico e urbano do bairro.
Economia
A economia do bairro de Nazaré é caracterizada pela diversidade comercial e pela concentração de serviços, com destaque para a Avenida Joana Angélica, que abriga um dos principais centros comerciais da cidade. O comércio informal também possui uma presença significativa, destacando-se como uma das principais atividades econômicas da região. No entanto, o bairro não se destaca como um polo industrial ou turístico, apesar de sua localização no Centro Antigo de Salvador, próximo ao Centro Histórico. Embora Nazaré faça parte de uma área de grande valor histórico, não é considerada um destino turístico relevante. Contudo, a Arena Fonte Nova, situada nas proximidades, atrai turistas ao sediar jogos, shows e eventos de grande porte.
O setor industrial no bairro de Nazaré é praticamente inexistente, uma vez que o bairro possui uma característica predominantemente residencial e centralizada. Isso dificulta a instalação de indústrias de grande porte, que geralmente se localizam nas periferias das cidades, em áreas de expansão urbana. O comércio informal, por sua vez, tem gerado críticas devido à desordem no espaço público, com a ocupação das calçadas e ruas, o que prejudica a circulação de pedestres e o tráfego de veículos. Reconhecendo a importância desse comércio na economia local, a Prefeitura de Salvador iniciou, em 2020, um processo de revitalização da área para organizar e melhorar a convivência entre o comércio informal e o espaço urbano, buscando um equilíbrio entre a dinâmica comercial e o bem-estar da população.
Infraestrutura
Em termos de infraestrutura, Nazaré é possui diversos equipamentos urbanos, incluindo escolas, hospitais e espaços culturais. A Praça Conselheiro Almeida Couto, recentemente revitalizada, oferece áreas de lazer e convivência para os moradores. Além disso, o bairro é atendido por importantes vias de acesso e transporte público, facilitando a mobilidade urbana.
Patrimônio Histórico
O patrimônio histórico de Nazaré é rico e diversificado, com destaque para edificações religiosas e civis. Entre os marcos históricos estão a Igreja e Convento de Nossa Senhora do Desterro, o primeiro convento de freiras do Brasil, e a Igreja do Santíssimo Sacramento e Sant'Ana, construída no século XVIII e tombada pelo IPHAN em 1941. O bairro também abriga o Palacete Góes Calmon, sede da Academia de Letras da Bahia, e o Solar do Barão do Rio Real, uma das primeiras residências da região, ambos representando a riqueza arquitetônica e cultural de Nazaré.
